A ilusão de estar no controle
Quando eu era criança, observava meus dois irmãos jogando vídeo game e ficava doido para brincar com eles. Claro que eles nunca queriam deixar eu jogar, pois eu não sabia nem mexer no controle e eles também não tinham muita paciência para me ensinar. Mas de tanto que insistia, certa vez, me deixaram jogar. Lembro de pegar o controle e sair apertando todos os botões sem parar… realmente eu não sabia o que estava fazendo, mas era divertido participar da brincadeira com eles.
A alegria durou até eu perceber que na verdade eu não estava controlando nada. Já que, como descobri, meus irmãos deixavam o controle no modo automático e o vídeo game é que fazia os movimentos que eu não sabia fazer. Quando me dei conta disso, fiquei muito chateado. É claro que depois de um tempo pude aprender a jogar e ficou tudo bem quanto a isso.
A vida em modo automático
Agora, diante dessa cena que vivi, o convido a refletir: já teve a sensação de sua vida estar assim no modo automático, como num jogo? Não é verdade que muitas vezes sentimos que por mais que façamos uma série de atividades, mais parecemos uma criança que está apertando aqueles botões e que isso não vai levar aonde queremos?
Durante minha faculdade, eu tinha muitos planos para minha vida e achava que só pelo fato de imaginá-los, tudo aconteceria no momento que eu quisesse. O tempo foi passando, foram surgindo os compromissos e aqueles planos pareciam cada vez mais distantes. Certa vez, no trabalho, num daqueles estalos repentinos, percebi que muito do que eu fazia durante o meu dia não estava alinhado com aqueles projetos que sempre me animavam.
Quando me dei conta disso, senti uma grande frustração, pois percebi que eu não estava conduzindo as coisas como eu queria na minha vida.
Parecia que eu estava sendo guiado de forma automática pelas circunstâncias. Por que isso estava acontecendo? Será que em nossas vidas também existe um controle e eu não estava sabendo usar?
Falta de vontade
Diante disso, me propus a me encaminhar novamente em direção àqueles meus propósitos e planejei algumas atividades. Mas na hora de colocar as ideias em prática, percebi que sempre surgiam uma série de dificuldades e eu fazia tudo menos o que tinha me proposto. Apareciam pensamentos argumentando “estou cansado”; “posso fazer isso depois”.
Notei que havia em mim uma falta de vontade, que estava me atrapalhando muito na realização daquelas atividades. Compreendo que diante dessa característica, bastante comum nas pessoas, tudo o que realmente queremos vai ficando para depois. Nesse ritmo inconsciente, automático, vamos perdendo tempo e a vida parece que vai escorregando pelas mãos, de forma angustiante, pois com o tempo perdido vão também nossos sonhos.
Sobre pensamentos
Diante disso, hoje, tenho me dedicado a observar a minha mente durante as atuações no dia a dia e pude compreender que, no final das contas, são os pensamentos que vivem nela que me conduzem, sejam eles quais forem.
Todo ato nosso tem por trás um pensamento que o comanda. Ocorre que tais pensamentos não vão necessariamente me levar para onde eu quero. Já que, cada pensamento cumpre uma finalidade, a qual pode ser útil ou inútil.
Está claro que a cada situação em que começo a realizar algo de bom para mim, como no caso dos meus projetos, surgem pensamentos que querem me atrapalhar. Parecem os desafios da fase de um jogo, os quais temos de superar para passar ao próximo nível. Os recursos que tenho utilizado, para enfrentar isso, são os de estar consciente do que ocorre em meu interno, nesses momentos, e de tomar uma decisão.
Frente a um pensamento inútil, pergunto: quero ficar mais próximo ou mais afastado de meu propósito? Essa pergunta promove a reflexão sobre o grau de prejuízo que me causará postergar o meu objetivo, ou seja, se eu optar pelo pensamento inútil. Isso fortalece o domínio da minha vontade em favor dos pensamentos úteis. A cada decisão, sinto que estes vão ficando com mais vida e energia.
Assim, com a constância desses movimentos mentais percebo que vou me tornando capaz de enfrentar decisões maiores, como se estivesse passando de fase e evoluindo internamente.
Compreendo que como naquele episódio da infância, os seres humanos também têm um controle nas mãos, o controle da vida, que é a própria mente. Mas, em geral, não sabem como utilizá-lo, não se dão conta de sua realidade interna onde, sem uma intervenção consciente, as coisas vão acontecendo no modo automático e os esforços realizados vão se dispersando.
Sendo assim, vejo que, para não deixar a vida ser uma reprodução automática, é preciso se dispor a conhecer a si mesmo, o que vai muito além de apenas conhecer a própria mente. Utilizar os botões da consciência e da decisão são apenas alguns dos infindáveis recursos que encontrei na sabedoria Logosófica, para cada vez mais dominar o controle da minha vida.