O homem se move e atua por impulso de determinados estímulos, que seriam seus agentes motores. Eles passam inadvertidos para a maioria, a ponto de ser necessário mostrá-los a seu entendimento, a fim de que os perceba e sinta sua influência benéfica.

Essa maioria carece de estímulos, mais por força de um costume – o de esperar tudo dos semelhantes e não do esforço próprio, o de confiar na sorte – do que pelo fato de tais estímulos não existirem em realidade.

Essa aparente orfandade de estímulos faz o ser experimentar a necessidade de se liberar da opressão que para ele representa uma vida sem melhores alternativas. Enquanto uns buscam preencher o vazio com distrações e diversões de toda espécie, outros manifestam sua predisposição à fantasia.

Vemos que quase todas as histórias em quadrinhos, que constituem o deleite de crianças e adultos, têm suas tramas baseadas em super-homens dotados de forças extraordinárias, que realizam proezas estupendas, fazendo o comum das pessoas sonhar em possuir iguais condições, dignas da admiração do semelhante.

Não deixa de ser sugestivo esse movimento mental voltado para um pretenso ideal que, pelo fato de ser inalcançável, exalta ainda mais a imaginação de quantos coincidem em tal aspiração.

Todo esse movimento mental, que se reproduz em diferentes setores do pensamento e da atividade humana, mostra com evidência qual é o estado de meia humanidade. Não se conformando com uma existência que não lhe proporciona os inefáveis gozos que as mudanças notáveis produzem na alma, o homem alimenta o pensamento de ser algo superior a tudo o que existe de vulgar no sentir humano.

A Logosofia, com sua riqueza de estímulos, vem preencher esse grande vazio, conduzindo o homem rumo ao despertar de uma vida que não é a comum

e sim outra, na qual podem ser satisfeitas as mais extremas exigências. Ao mesmo tempo que assinala a ilusória imagem das criações fantasiosas, indica ao homem, com a eloquência de seus quadros experimentais, qual é o caminho a seguir para conquistar até as mais altas expressões de sua humana natureza e de sua hierarquia mental.

Convenhamos que a riqueza de conhecimento faculta ao ser viver uma vida que só em aparência se assemelha à vulgar, pois dela dista muito quanto à amplidão, às perspectivas, à qualidade e eficiência de suas particularidades, sobretudo em suas possibilidades conscientes.

Nada pode ser mais propício do que pôr mãos à obra, com o propósito de criar uma nova individualidade, cujas necessidades vitais sejam atendidas com o sumo dos conhecimentos que se prodigalizam ao entendimento de quem cumpre suas próprias promessas nesse sentido.

Extraído da Coletânea da Revista Logosofia – Tomo 1, p.21

Coletânea da Revista Logosofia – Tomo I

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Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.