Você quer ser melhor?
Ainda que não o conheça, que não saiba quem você é e nem o que faz, parece-me vê-lo responder: “É claro que sim!” Ser melhor é algo que todos querem, indistintamente, seja qual for sua nacionalidade, idade, estado civil, profissão etc. Estamos na verdade frente a uma grande aspiração inerente à natureza do homem.
Inegavelmente, os seres humanos nasceram para serem melhores, para buscarem o próprio aperfeiçoamento, para descreverem um processo evolutivo distinto dos demais seres da Criação. Ao animal, por exemplo, não caberia nunca essa pergunta do início do texto. Tampouco ao vegetal. E nem sequer de longe poderia fazê-la ao mineral. Ser melhor é uma possibilidade única e exclusiva do gênero humano. Não é sem motivo que dispõe de todos os mecanismos intelectivos, sensíveis e espirituais para realizar essa proeza do “lapidar-se a si próprio”.
Segundo González Pecotche, criador da ciência Logosofia, “Ser melhor significa sê-lo em tudo”. Logo, não basta ser melhor profissional, reunindo em si conhecimentos da área em que atue, se, paralelo a essa aquisição, não vermos surgir um melhor cidadão, um melhor amigo, um melhor vizinho, um melhor pai. Se queremos ser melhores, não podemos deixar nenhuma área de nossas vidas sem o saudável influxo dessa nobre aspiração.
Quando, contudo, nos detemos na educação de filhos, essa aspiração ganha contornos especiais. Queremos ter melhores filhos e nisso somos pródigos em tecer os melhores traços para definir o perfil do filho que todos sonhamos em ter – ou em formar. Ainda mais com os desafios da época de hoje, em que um maior número de influências de toda ordem, especialmente as negativas, chegam diariamente até eles.
Queremos educar nossos filhos para que sejam honestos, pessoas de bem, que saibam fazer suas escolhas, que saibam se defender do mal, que sejam felizes, amáveis e responsáveis.
Nesse ângulo, ser um melhor pai ou uma melhor mãe, capaz de orientar a educação de filhos para que sejam também melhores, surge como um grande desafio. Um desafio que põe à prova os recursos que cada um de nós, pais, temos acumulado com as experiências da vida.
E é aí, precisamente, que nos damos conta de que precisamos nos munir de muitos outros recursos docentes que nos habilitem a influir positivamente na educação de nossos filhos.
Certo dia, eu estava sentada à mesa da sala, quando vi minha filha surgir, no final do corredor. Vinha devagar, arrastando a mochila pelo chão. Ao chegar à sala, jogou a mochila a um canto e sentou-se desajeitada na cadeira.
Ao vê-la, pensei: “Ih, não acordou bem!” E como eu sempre fazia, abri os braços com um sorriso afetuoso e lhe disse: “Bom-dia, filha!” Ela olhou para mim enfurecida e me respondeu: “Bom-dia, bom-dia, como é possível um bom-dia com tantas tarefas de casa para fazer?”
Eu estava tranquila, estudando, serena e feliz, e aquela frase, dita de forma tão endurecida, tão reacionária, provocou em mim algo muito interessante! Imaginem a cena: uma fazendinha tranquila, amena, com alguns boizinhos comendo a grama. De repente, alguém dispara um tiro e aqueles boizinhos despertam e se transformam em búfalos ferozes, correndo em disparada em direção à porteira! Assim vivi aquele instante, como se grandes e furiosos “búfalos” estivessem prontos para sair de minha mente!
Atenta ao que se passava comigo, presenciando toda essa “revolução interna”, detive os pensamentos e lhe respondi: “Mas o que a mamãe quer é apenas lhe dar um abraço de bom-dia, como fazemos toda manhã!”
Diante dessas minhas palavras, ela se levantou da cadeira, foi até mim, e, de costas, me disse: “Tá bom, tá bom, pode dar o abraço, mas anda logo que eu tenho muita coisa para fazer!”
Com essa nova frase, sabem o que aconteceu comigo? Isso mesmo: novo estouro da boiada! Mas eu estava atenta ao que ocorria comigo. Novamente freei o impulso dos meus pensamentos. Abracei-a com carinho – ela de costas para mim – e disse-lhe: “É tão bom começarmos o dia assim, abraçadinhas!”
Ela virou-se para mim e me disse, já com outra fisionomia: “Bom-dia, mãe!” “Bom-dia, filha!” “Você me ajuda nas tarefas?” “Claro que sim! E você vai ver que nem são tantas tarefas assim!”
Ela, então, sentou-se à mesa, pegou seus cadernos e começou a fazer suas tarefas normalmente, já com outro ânimo. Eu a observava de onde estava e pensava no grande que vinha aprendendo com a Logosofia. Não fosse essa ciência, certamente aquele momento seria vivido de outra forma!
No livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, o autor da Logosofia, ao se referir à impulsividade, nos ensina o seguinte:
“O pensamento que a excita pareceria estar espreitando uma oportunidade para saltar como a cobra de pano encerrada na caixa de surpresa.”
Era exatamente o que eu havia comprovado nessa vivência! Alguns minutos depois, ao ir ao meu quarto, encontrei um bilhetinho escrito numa etiqueta de caderno, preso na porta do armário, com a seguinte mensagem: “Mamãe, todos os dias, quero que me dê 1000 abraços de bom-dia por minuto!”
Não tive dúvida de que eu havia sido “melhor mãe”! E, ao exercitar-me em ser “melhor mãe” estava também ajudando minha filha a ser “melhor filha”!