Na casa de Alice, as brincadeiras eram as mais imaginativas! Cheias de colorido, seus personagens eram heróis e heroínas, vivendo muitas aventuras, muitos amores e surpresas!
Alice gostava muito de viver naquele mundo que ela chamava de “meu quarto”. Bastava avisar em casa: ⎯ Vou para meu quarto, que sua mãe e irmãos já entendiam a mensagem: ⎯ Lá vai Alice para seu mundo das princesas!
Horas e horas se passavam entre príncipes e princesas, música, poesias e desenhos! Alice tinha vários tesouros que guardava consigo, mas três eram mais especiais: o colorido, a música e a esperança.
Um dia, sua mãe, um pouco preocupada com a tendência da filha de viver apenas no seu mundo particular, chamou-a para conversar. Alice estava entrando na adolescência. Nessa fase, poemas, príncipes e princesas deixam de ser os melhores companheiros. A filha precisava ser preparada para a vida real.
Só nos foi permitido ouvir o final daquela conversa. E as palavras ditas pela mãe foram:
⎯ Minha filha, se pudesse te dar um presente, diria: não perca a alegria de suas histórias coloridas, não perca a poesia de suas músicas, não perca a esperança quando iluminada pela própria capacidade de criar! Mas saiba que nada disso vem sem luta, sem sofrimento e algumas lágrimas de dor!
E completou: ⎯ Essa é a vida real. As coisas não serão exatamente como você gostaria, as pessoas não são todas belas e o “viveram felizes para sempre” está longe de ser uma verdade! Porque a felicidade não brota só, exige consigo dedicação, empenho e esforço! Muitas vezes, suor, muita inteligência, e um tanto de abnegação.
Ao ver os olhos da filha se arregalarem e se banharem de lágrimas ⎯ frente ao panorama tão diferente daquele que ela imaginava como seu ⎯ a mãe, com ternura, lhe segurou as mãos, beijou seu rosto e lhe deu alento.
Por fim, encerrou aquele momento sublime com as seguintes palavras muito instrutivas, que Alice para sempre recordaria:
⎯ Mas não se desanime ou pense que a realidade extingue a beleza da vida! Ao contrário, você verá que a diferença entre os seres, de gosto ou entendimento, é o que traz o colorido para nossos dias; os sons das conversas, o choro da criança e o riso do idoso, são a verdadeira música que nos alenta; e de cada aprendizado, após a dor e o sofrimento, a esperança de se ter aprendido e enriquecido um pouco mais. Dou a você três novos tesouros para que guarde no coração: a realidade (e seu colorido), a (música da) experiência e a superação (que enche de esperança o coração)!
Quando o colorido das histórias infantis se extinguirem em seu coração, não perca a esperança de dias melhores, pela superação; não deixe de ouvir a música no conselho da experiência; e o colorido que há na diversidade da figura humana.
Marina Siqueira Lemos
Brasília, 28 de junho de 2020