Na concepção corrente, a palavra exemplo designa tudo aquilo que pode ou deve ser imitado, um modelo do qual se pode extrair um ensinamento.
Compreendo que precisamos de exemplos ou modelos em quem nos espelhar, pois, mesmo aprendendo sozinhos – seja pela necessidade ou pelo estímulo –, nem sempre temos a certeza de estar no caminho certo.
O processo natural é que, desde pequenos, iniciamos nosso aprendizado observando os mais velhos, sejam eles pais, irmãos, professores ou amigos, que passam a ser modelos para nós. Muitos desses exemplos, aprendidos pela observação ou pela forma como somos ensinados, são passados de geração em geração. No âmbito familiar, a maneira de educar os filhos, os hábitos – bons ou ruins -, e o gosto por determinadas comidas atravessam gerações e são perpetuados por meio dos exemplos.
Alguns exemplos acabam se tornando tradições, e posso ilustrar isso com um caso que ouvi várias vezes: um filho observava que, toda vez que a mãe ia assar um peixe, cortava-lhe a cabeça e o rabo. Intrigado, perguntou por que passava o peixe dessa forma. A mãe respondeu que havia aprendido assim. Foi quando o filho resolveu investigar essa tradição da família e, depois de algumas perguntas aos avós e bisavós, descobriu algo “inédito”: na época em que a bisavó assava o peixe, não havia uma vasilha que comportasse o peixe inteiro e, por isso, ela cortava a cabeça e o rabo para colocá-lo na assadeira.
Casos iguais a este são muitos. São exemplos transmitidos ao longo das gerações, sem explicação, que acabam se transformando em tradições. Para a Logosofia, essas são consideradas tradições mortas, pois, embora tenham tido uma razão de ser em determinada época, com o passar do tempo perderam totalmente o seu sentido.
O autor da Logosofia, González Pecotche, ensina que
o exemplo é a maior das tradições, porque sem exemplo não existe tradição.
Mas isso se refere a exemplos que devem ser seguidos – que sejam verdadeiros, compreendidos e assimilados pela mente humana – e que possam ser transmitidos porque agregam algo útil à vida de quem os recebe. Essa é a tradição viva!
Um outro elemento importante que a Logosofia ensina é que
todo ensinamento moral não avalizado pelo exemplo de quem o dita, atua em sentido contrário na alma de quem o recebe. (Curso de Iniciação Logosófica, p.78)
Recordei-me de ter vivido exatamente essa situação com minha filha, quando ela tinha sete anos. O telefone fixo tocou, e a pessoa que atendeu disse que a ligação era para mim. Como eu estava ocupada no momento, pedi que dissesse que eu não estava. Passados alguns dias, minha filha recebeu a ligação de uma coleguinha e, certamente recordando a atitude da mãe, fez o mesmo: mandou dizer que não estava.
Naquele momento, entendi que o mau exemplo dado havia repercutido negativamente em minha filha. Como mãe, sou o modelo em que ela se espelha; se ensino que mentir é errado, mas acabo cometendo esse erro, acabo, na prática, transmitindo a mensagem de que ela também pode faltar com a verdade. Diante dessa contradição, foi necessário agir com muita firmeza para explicar a ela a importância de atuar com a verdade. Percebi que corrigir um erro passado é muito mais difícil do que ensinar o comportamento correto desde o início.
Essa vivência me ensinou que, para ser um exemplo que mereça ser seguido, minhas atitudes e minha conduta devem ser sempre coerentes. Pensar, sentir e agir precisam estar em sintonia: o que a mente pensa, o coração deve sentir – e vice-versa.
Há um ditado que diz:
O exemplo ensina mais do que mil palavras.
Tenho comprovado essa verdade nos ensinamentos do autor da Logosofia, que se constitui em exemplo de tudo o que tem ensina.