Como falar sobre Deus para uma criança? Como levar o conceito de Deus para elas?

Sou professora, e uma experiência me mostrou a seriedade dessa resposta. Uma aluna de três anos de idade, ao entrar na escola, não permitia que fechássemos a porta da sala de aula, ou qualquer outra. Chorava e gritava muito, com medo de ficar presa. Ficava tranquila somente em espaços abertos.

Diante da situação, procurei relatar o ocorrido à mãe, que confirmou o mesmo comportamento em casa. Manifestou que o seu avô tinha falecido e toda a família estava vivendo um processo doloroso de luto.

Procurei ficar mais perto da criança durante os dias seguintes, e, numa ocasião, quando estávamos no parque, eu a observei conversando sozinha e explicando que queria ficar com seu avô, lá no céu, mas, que se fosse ficar com ele, Papai do Céu — como chamava Deus — fecharia a porta e ela não poderia mais voltar para seus pais. Papai do Céu não estava sendo bonzinho.

Entendi que aquele ser tão pequeno estava sofrendo. Os seus pais, com os recursos que possuíam, primeiro ligaram a morte à moradia no céu — lugar muito distante —, e depois retrataram Deus como aquele que a separou do avô.

Ao conversar com a mãe da criança, ela recordou que a menina chegou a manifestar que queria ficar no céu com seu avô. Com certo temor e sem recursos, explicou que, se fosse ficar com o avô, Papai do Céu iria fechar a porta e ela não teria como voltar para o convívio da sua mãe. Teria que decidir com quem iria ficar, com seu avô ou seus pais. Confirmei assim de onde vinha a fala da criança, e como seu efeito promovera nela um temor e um distanciamento de Deus.

Numa mente infantil, as imagens fortes que foram transmitidas fizeram com que a criança ligasse o fechamento de qualquer porta à impossibilidade de ver mais os seus pais — e que Papai do Céu era maldoso.

Após entender toda a situação, busquei acolher a criança e colaborar com a mãe, serenando-a e pedindo permissão para conversar com a criança. A experiência da perda do avô já era difícil, e, com as explicações dadas, isso se tornou algo ainda mais sofrido para aquele ser tão pequeno.

A primeira explicação foi que seu avô não estava no céu: olhamos para o mesmo e confirmamos que não havia ninguém lá. Recordamos de atitudes e brincadeiras que o avô fazia. Foi uma conversa bem sensível, ao fim da qual a criança descobriu que seu avô estava sempre presente através da recordação. Que seu coraçãozinho estava cheio de momentos lindos vividos com aquele ser tão querido. Que esses momentos seriam eternos. Pedi que ela trouxesse, no outro dia, uma foto dela junto com seu avô. Tarefinha realizada com muita alegria. Aproveitamos a oportunidade para voltarmos a recordar momentos vividos, e fazer com que a criança sentisse novamente a presença do seu avô, superando assim sua ausência. E disse a ela que todas as vezes que sentisse saudade de seu avô me procurasse que iríamos recordar aquele ser tão querido.

A segunda etapa foi modificar o conceito de um Deus maldoso. Procuramos observar e nomear aquilo que foi criado por Deus. Observar a beleza da natureza e confirmar a grandeza da Criação através de uma flor, dos pássaros, da água e do ser humano. Possibilitei uma ligação sensível a Deus, deixando claro que não caberia maldade — e sim grandeza, amor e beleza. A observação da Criação é o meio mais lógico de sentir e compreender a grandeza de Deus. O conceito de Deus deixou de ser aquele que separa as pessoas queridas, muito menos que fecha portas, e passou a ser de Criador, um Deus ilimitado.

Essa experiência confirma a importância de entendermos os mistérios da Criação, buscando respostas através do conhecimento, para não nos afastarmos das verdades. Libertando-nos assim da ignorância, e permitindo adquirir recursos para transmitir a essa nova geração conhecimentos que permitam menos temor e maior aproximação ao Criador, em todos os momentos da vida.