Amar a si mesma. Que dificuldade encontro em amar a mim mesma! Buscar amar e me vincular ao outro — como a meu filho, minha família, meus amigos e até meus colegas de trabalho, — é mais fácil e natural para mim do que buscar amar a mim mesma. Por que isso? Percebi que, por trás disso, está o pensamento de que não mereço ser considerada como alguém de valor.

Um exercício muito interessante que estou fazendo é anotar tudo o que eu consigo recordar da infância. Esta é uma prática logosófica importante, porque aquela criança tem muito a ensinar à adulta de hoje.

Além da grande alegria de recordar esse período tão feliz da vida, sinto que, ao me reconectar com meu eu infantil, estou aprofundando-me no conhecimento de mim mesma. E isso me tem ajudado muito a cultivar e a sentir mais esse amor verdadeiro, resgatando e aprendendo com as aspirações, inclinações, facilidades e dificuldades que tinha.

E, vocês, já fizeram o exercício de recordar-se da criança que foram?

Eu me recordo de que na infância me sentia livre, por dentro e por fora; sentia que podia e era capaz de aprender tudo o que quisesse. Amava a vida e estava sempre em movimento.

Para dar um exemplo, eu mantinha uma grande disciplina com o aprendizado – aos oito anos, entrei num curso extracurricular de matemática e fazia as lições todos os dias; gostava, aprendia coisas a mais do que na escola.

Numa viagem de férias com meus primos, minha tia perguntou: “Nossa, você faz as lições todos os dias?! Achei que era um diário, ou algo divertido”.

Parece que as crianças em geral possuem esse gosto natural pelo aprendizado, não é verdade? E a adolescência, vocês se recordam dela? Vocês identificam mudanças em relação à infância?

Eu senti que, na adolescência, essa sensação de liberdade se retraiu. Como me sentia presa e limitada por deficiências como a timidez, que foi crescendo, queria fazer algo e simplesmente não conseguia, faltava-me segurança. Recordo-me de um dia em que fiz um comentário depreciativo sobre mim mesma, do tipo:

“não sei fazer isso, não sou ninguém mesmo”. E uma amiga me perguntou: “Então, você não é alguém?”, achando aquilo bem curioso. Internamente respondi que sim, era realmente o que pensava de mim, não me achava alguém importante, que merecesse atenção.

O contato com a Logosofia me apresentou conhecimentos muito elevados que, se por um lado me indicam que tenho muito ainda a realizar e superar, estimulam-me a seguir avançando, a ampliar minha capacidade cada vez mais.

A Logosofia e seu método original indicam também a realização de um plano de ação individual, que tem como objetivo superar as maiores dificuldades, que no meu caso era a inconstância quanto aos aspectos mais importantes da minha vida. Assim, resolvi resgatar essa disciplina e alegria que eram tão naturais em mim, só que agora de forma consciente.

Também estou buscando direcionar o plano para aquela criança, pois, quando erro, já vem o desânimo: “está vendo? Parece que não aprende, não tem jeito mesmo”.

E como é corrigir uma criança? Não parece inconcebível desistir dela, que está aprendendo e tem toda uma vida pela frente?

Fazer o plano dessa forma me traz muita alegria e me conecta ao meu “eu criança”. Sinto melhorar todos os aspectos da vida, não só no estudo de mim mesma, mas também no exercício físico, nas finanças, com a família, expandindo meu tempo e acrescentando um conteúdo de valor à minha vida.

Estou voltando a me sentir mais livre, segura, o que aumenta a minha consciência de que tenho, sim, valor, quanto maior é o esforço em tornar as aspirações daquela criança em realidade.

E nisso sinto o amor verdadeiro, o amor ao ser real, não porque ele é perfeito, mas porque é aperfeiçoável, e isso me faz querer dar o melhor da minha vida, não só para mim, mas também para os outros. Assim estarei mais próxima de amar a Quem criou minha vida e tudo o que existe.