A primeira vez que me recordo de ter encarado essa dupla possibilidade frente a um fato da vida foi na infância.
Lá pelos sete anos de idade, quando começava a frequentar os bancos escolares. Minhas aulas eram no período da tarde, das 14h às 17h, sem intervalo para lanche. Naquela época as carteiras eram duplas, cada criança com sua parceira.
A minha colega saía todos os dias da sala em torno das 15h30 e voltava alguns minutos depois. Aquilo me intrigava. A professora explicou que ela precisava tomar um remédio naquele horário. Fiquei pesarosa, com pena da amiguinha.
Um dia observei que ela voltou para a sala com migalhinhas de pão na blusa, e aquilo despertou minha curiosidade. No dia seguinte, quando ela saiu, pedi para ir ao banheiro e a segui de longe. Que surpresa!
No portão da escola, a mãe lhe entregava um lanche, que ela comia rápido para voltar para a aula. Corri de volta e, chegando antes dela, disse animada e feliz na porta da classe:
– Professora! Ela não está doente! Ela sai para comer o lanche!
A partir daí, todas as crianças da minha sala foram autorizadas a trazer um lanche de pão com manteiga para comer na própria sala, no meio do período, e a minha parceira não precisou mais sair todos os dias naquele horário.
Muitos anos depois, já adulta, conheci a Logosofia e comecei a ler os livros do autor. Uma orientação, repetida em vários livros, chamou minha atenção: o leitor não deve acreditar nas suas afirmações, por mais claras e lógicas que pareçam. Na linguagem logosófica, a palavra “crer” é substituída pela palavra “saber”, pois é imprescindível a comprovação individual das verdades transcendentais reveladas pela concepção logosófica.
Para compreender a necessidade da substituição do “crer” pelo “saber”, busquei alguma experiência vivida que me comprovasse essa vantagem, e foi então que resgatei essa simples experiência vivida na infância. Analisando o que se passou dentro e fora de mim mesma naquela oportunidade, identifiquei que o saber exige uma postura ativa, de comprovação, observação, movimento, o que é muito diferente da posição passiva, de simples aceitação.
Dá muito mais trabalho saber do que crer, mas a segurança que se adquire ao assimilar o conhecimento compensa todos os esforços.
E esse conhecimento beneficia não só a mim, como também aos que me rodeiam. O conhecimento amplia a vida; permite descortinar uma realidade que a ignorância nos impede de desfrutar.