Quando se fala em universo, logo vem à mente a imagem do espaço sideral, que não é tão difícil de ver ou de conhecer, pois, além de visível, os cientistas não medem esforços para lhe explorar até os limites alcançáveis. Entretanto, quando se trata do universo interno, aquele que existe dentro de nós, conhecemos pouco ou praticamente nada. A falta de familiaridade com nosso próprio universo interior frequentemente gera insegurança, pois tememos o desconhecido, mesmo quando se refere a nós mesmos.
Eu sempre ouvia as famosas perguntas “quem sou eu?”, “de onde vim?”, “para onde vou?” e “o que estou fazendo aqui na Terra?” Essas perguntas acabaram por povoar minha mente e as adotei para mim, passando a buscar respostas para elas.
Descobri que eu, assim como todos os seres humanos, tenho um universo interno, um mundo só meu. Este é o primeiro passo para responder à pergunta “quem sou eu”.
A Logosofia ensina que cada ser humano possui três sistemas: mental, sensível e instintivo. Além disso, possui uma alma, um espírito e uma consciência. Pode parecer complexo, mas não mais do que nosso corpo biológico. A única diferença é que este último é físico, enquanto a configuração mencionada anteriormente é metafísica.
Assim como o corpo humano era difícil de entender no início, tornando-se mais fácil à medida que o conhecíamos, o mesmo acontece com o nosso universo interno, que é metafísico. Para o conhecer, precisamos olhar para dentro de nós mesmos. E é aí que está a dificuldade, mas isso se torna mais simples quando adquirimos conhecimentos.
Recordando minha infância, não me lembro de ter sido informada e ensinada sobre o universo dentro de mim que, apesar de intangível, é tão palpável quanto o universo físico. Pensamentos dos mais variados povoam minha mente. Alguns me impulsionam para frente, para querer saber mais, deixam-me feliz e levam-me a realizar ações positivas e construtivas. Outros, porém, trazem medo e insegurança. O que está no meu universo interno manifesta-se em palavras e ações, ou seja, na minha conduta, seja ela boa ou ruim.
Pensar é um ato criativo, mas que pode ser também refletir, observar e meditar. Para que eu possa observar o que acontece dentro de mim, preciso aprimorar o funcionamento das minhas faculdades mentais, caso contrário posso olhar e não enxergar, ou até mesmo ver e não entender o que eu estou vendo.
Mesmo para as questões do dia a dia muitas vezes percebemos como poderiam ter sido melhor pensadas. Se, para os aspectos materiais visíveis, nem sempre pensamos como deveríamos, que dirá para os aspectos que não vemos. E por que não os vemos? O que nos impede de nos conhecer metafisicamente é a falha no funcionamento do nosso mecanismo pensante. Para que as faculdades mentais cumpram seu propósito, suas engrenagens precisam operar livremente, sem travas.
O que aconteceu comigo é que sempre fui induzida a acatar cegamente o que os adultos diziam. Quando somos obrigados a tomar como certas as ideias e pensamentos de outras pessoas, não utilizamos as faculdades mentais que compõem nossa inteligência. E, quando não nos sentimos confortáveis ou livres para fazer perguntas ou questionar, as faculdades tendem a funcionar menos e até a atrofiar-se, pois esse tipo de medo paralisa — especialmente quando alguém tenta pensar por mim e decidir o que devo querer.
Um aspecto que me deteve durante muito tempo foi o temor a Deus. Qualquer coisa que eu fizesse de errado, ouvia de algum adulto que Deus iria castigar-me. Por outro lado, eu deveria amar a Deus sobre todas as coisas. Como é que se pode amar a quem se teme?
Cada ser humano, com seu universo próprio e individual, está conectado ao universo visível, ao cosmos e a toda a Criação. E, em última instância, está conectado a quem criou tudo isso: Deus. Por alguma razão, Deus passou a ser adotado por várias correntes de crenças, sugerindo que apenas através das religiões seria possível alcançar este Criador. O que venho experimentando é que, para conhecer a origem de tudo, inclusive do universo físico e visível, preciso adquirir conhecimentos que transcendam os conhecimentos já existentes. O que me atrapalha na busca desses conhecimentos transcendentes? São as crenças que paralisam a nobre função de pensar. Em seguida vem o temor, que paralisa minhas ações, minhas decisões, faz-me vacilar, ser insegura e não saber como me posicionar diante dos fatos e da vida de um modo geral.
Partindo de uma premissa falsa ou incorreta, todo o desenvolvimento subsequente de qualquer linha de raciocínio posterior tende a levar-me a um grande desvio, pois estou baseando meu pensamento em algo incerto.
Existe ainda o grande e nobre papel do sistema sensível, que, ao se conectar ao mental e utilizar a energia instintiva direcionada para o bem e o conhecimento elevado, pode transformar indivíduos em seres humanos na mais pura acepção da expressão.
Hoje começo a vislumbrar a realidade que se revela, mostrando parte do mistério que envolve o universo.
González Pecotche, autor da Logosofia, afirma:
Tudo o que o homem ignora, não existe para ele. Por isso, a Criação se reduz para cada ser ao tamanho do que abarca seu saber.