“Desculpe o transtorno. Estamos mudando o país”.

Assim dizia um dos inúmeros cartazes empunhados pelos manifestantes de junho de 2013 nas ruas de São Paulo. Independentemente das razões imediatas e de como isso foi conduzido em seguida, percebe-se, como ali ficou evidente, que há uma insatisfação presente nas pessoas e uma enorme vontade de mudar.

Mas não mudar apenas o país, mas mudar o mundo. É bem certo que nos pegamos em conversas, falando com indignação sobre como as coisas são conduzidas na vida pública do país. É um assunto que se fala em qualquer lugar — até para se puxar assunto. Mas não pára aí.

Também encontramos a mesma indignação em relação ao que ocorre no mundo, e aí se afirma que os problemas decorrem das características próprias do ser humano – de seu egoísmo, sua indiferença, sua violência –, às quais nos rendemos, mas não conseguimos aceitar.

O mundo precisa mudar!

Desde pequeno, recordo de meus pais me ensinando como me defender do assédio dos mal-intencionados, como ver as coisas acontecendo ao meu redor e como discernir entre o que era certo e o que era errado. Ao mesmo tempo, experimentava uma grande desconformidade: por que as coisas deviam ser desse jeito?

E isso foi certamente experimentado por toda a humanidade ao longo dos tempos. Quantas vezes apareceram ideias e ideologias que sugeriram muitas mudanças e formas de mudar… E quantos caminhos equivocados… Só neste último século, essa fome por mudanças levou o mundo a passar por momentos em que parecia que a existência da própria humanidade estava em risco.

Mesmo tendo superado alguns desses momentos álgidos, não parece que essa humanidade esteja mais esperançosa do futuro.

O mundo deve mudar!

Mas será que existe uma forma efetiva e real de se buscar essas mudanças intuídas, sem o perigo de nos equivocarmos? Em que bases podemos construir o caminho da mudança?

Pareceria que as causas reais são esquivas à compreensão humana, mas não é difícil se identificar com os postulados de González Pecotche, criador da Logosofia, de que em verdade não se trata de uma manifestação inerente ao ser humano, mas sim que há uma profunda falha nas bases das culturas vigentes: o homem desconhece a si mesmo e as possibilidades metafísicas que abrem prerrogativas que o aproximam de destinos mais elevados e mais próximos do Criador.

Essa mesma cultura decadente nos ensina a desdenhar essas possibilidades metafísicas — apesar de elas fazerem parte dos sonhos mais íntimos e acalentados pelos homens.

Ao apresentar assim a razão de tamanha insatisfação humana, González Pecotche centra a causa dos problemas humanos no indivíduo, mas com possibilidades de solução ao vincular sua vida às perspectivas que transcendem àquelas que usualmente entendemos como comuns.

Seria, portanto, um trabalho profundo de descoberta das verdadeiras prerrogativas humanas e de um trabalho interno de transformação da própria vida.

Em outras palavras, essas descobertas direcionam a concepção logosófica do ser humano, apresentando-o com duas naturezas — a física e a espiritual.

Quando essa natureza espiritual, verdadeira essência do ser humano, parte imperecível desse ser, passa a ser o ponto de convergência de todos nossos pensamentos, as decisões sobre o futuro passam a ser outras, e a vida material, fundamental para as realizações espirituais, experimenta um equilíbrio que antes quando acontecia de existir, era constantemente ameaçado pelos medos e ambições desenfreadas.

Essa parte física passa a ser encarada não como um fim em si, mas como um meio de se alcançar esses grandes sonhos, ancestrais na vida humana.

Essas descobertas significam também que, em consequência desse novo conceito de vida que se vai formando no indivíduo, isso se traduz, no conjunto dos seres humanos, em uma nova cultura, superior em alcances às culturas vigentes.

Não podemos nos contentar, no entanto, com a ideia de que, se cada um fizer a sua parte, o destino da humanidade se modificará. A velocidade com que a referida decadência se acentua coloca em xeque o futuro da humanidade, o que não nos permite encarar a questão como um lavrador que espera uma boa colheita depois de lançar sementes ao vento.

González Pecotche apresenta a ideia de que o homem deve se empenhar num grande projeto em que, ao mesmo tempo em que experimenta a felicidade de estar em contato consciente com essas realidades que vivem em si, entende-se também como uma célula desse grande corpo chamado humanidade.

Entender a humanidade como um corpo com vida própria, em vez de ser simplesmente a soma de todos os seres humanos na face da Terra, é uma imagem que se faz possível apenas se se compreender que se deve estabelecer um vínculo forte entre esses indivíduos para que estes se enxerguem também como células.

As mentes devem se familiarizar com esses conceitos e, ao mesmo tempo em que experimenta essa transformação interna, os homens devem procurar uns aos outros para estabelecer um grande sistema de vinculação espiritual que orbite em torno da fonte dessas grandes concepções que elevam as perspectivas humanas.

Mudar o mundo, mais que um anseio, deve, portanto, transformar-se na razão da própria vida humana.