É necessário cultivar muito a reflexão, evitando pronunciar-se com precipitação, pois nunca é tarde para responder com a palavra ou com o exemplo. O mau é quando se quer ter logo toda a razão e, pior ainda, quando se tem a pretensão de impô-la aos outros. Todos temos sempre uma parte de razão; entretanto, não é esta a que utilizamos para nos entendermos com o semelhante, mas justamente a que não temos, isto é, a que cremos ter. 

Se encontrarmos duas pessoas discutindo acaloradamente e até quase agressivamente, e nesse instante perguntarmos que animosidade existe entre elas para discutir dessa maneira, certamente não saberão responder com precisão o que fez com que chegassem a se tratar em termos tão agressivos; ou melhor, as duas dirão, ao mesmo tempo, que uma delas quis impor sua razão à outra. 

Se uma delas, em vez de querer impor sua razão, a desse à outra, buscando com isso acalmar sua pretensão, seu amor-próprio ou sua vaidade, quem teria saído ganhando? A primeira, absolutamente nada, e a outra tampouco, mas teriam evitado possíveis consequências amargas. 

Não devem existir desavenças entre os seres por motivos totalmente alheios ao que constitui a finalidade da vida

Não devem existir desavenças entre os seres por motivos totalmente alheios ao que constitui a finalidade da vida porque seria distrair a atenção, perder o tempo, gastar energias, contrariar o espírito e relaxar o ânimo.

Em consequência, quem é consciente de possuir uma parte de bem e de felicidade deve buscar, logicamente, ser amável, desculpando sempre os momentos intempestivos do ânimo do semelhante, pois quanto mais o desculpar, mais haverá de merecer desculpa, se alguma vez incorrer no mesmo erro. Quão grato é para o espírito sentir como nos é devolvido o mesmo bem que tenhamos oferecido na desculpa do erro alheio! Com isso, já estamos nos fazendo um bem, alimentando nossa felicidade. 

Devemos converter-nos sempre em credores morais e não em devedores

Devemos converter-nos sempre em credores morais e não em devedores; quanto mais belos forem nossos gestos, quanto mais elevação houver em nossos atos e pensamentos, quanto melhores forem nossas palavras e intenções, tanto mais tudo isso contribuirá para aumentar a própria posse da felicidade. Os momentos da vida serão mais gratos, porque experimentaremos a ventura de haver criado um estado aprazível dentro de nosso ser, depois de oferecer o esquecimento à ofensa, prodigando a doçura e o bem em todo sentido. 

Lamentaremos se não virmos o mesmo no semelhante; mas nem por isso nos sentiremos incomodados ou ofendidos por quem nos mostra sua inferioridade, pois já é uma grande vantagem saber-se capaz de dominar as reações impulsivas do ânimo, enquanto se derrama, em doce expressão, a desculpa e a ternura do perdão, que abranda até as pedras mais duras. 

Esta concepção de uma conduta superior permite refletir sobre os muitos instantes em que a experiência surge provando a têmpera de nosso espírito; com frequência, esta ou aquela circunstância nos oferecerá motivo suficiente para exercer a prática desse bem.

Extraído de Introdução ao Conhecimento Logosófico, p.286-288

Introdução ao Conhecimento Logosófico

Introdução ao Conhecimento Logosófico

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Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.