Comumente, homem e mulher só buscam a coincidência no afeto pelo sentimento, rara vez pela mente. Se, porém, eles se encaminham pela mesma senda e se nutrem dos mesmos conhecimentos transcendentes, entre ambos se promoverá um acercamento de outra natureza, o espiritual, que é por si só toda uma garantia moral.

Quero com isto dizer que a boa condução do matrimônio estará determinada por esse acercamento espiritual, pois ambas as partes se compreenderão melhor, se respeitarão e sentirão verdadeira consagração a esse ideal que se dispõem a realizar.

Esta é uma diretiva que leva a encontrar, por via natural, o desenvolvimento de uma nova forma de conduzir-se, através da qual homem e mulher se preparam para a coincidência no sentir e no pensar. Nisto, como em todas as coisas da vida, se requer preparação, e essa preparação, particularmente neste caso, é o tapete de flores por onde os seres caminham em direção à felicidade.

Quando um dia, a vida levar o homem ao encontro da mulher que, em sonhos, espera por seu “príncipe encantado”, auguro-lhe que a encontre desperta. Que não seja a Bela Adormecida, que vive no mundo ilusório da juventude, mas sim a Bela Desperta, aquela que em plena juventude se esforça pela posse de virtudes que a farão feliz por toda a vida. E que ambos possam experimentar essa alegria sã e duradoura que sentem os que compreendem e almejam, por igual, a superação de suas vidas.

O amor tem de possuir o hálito da perpetuidade, senão é um mero engano

Quando irromper no coração, deve-se cuidar de que contenha todos os elementos que haverão de dar perenidade a ele, e cuidar também de que esses elementos estejam contidos no amor com que seja correspondido.

Um desses elementos é a constância; o outro, a paciência. Somando a eles a tolerância, temos reunidos os três elementos básicos do amor.

O amor é o primeiro passo para a constituição da família; por conseguinte, após o casamento ele deve ser sustentado firmemente por esses três elementos mencionados, porque desse amor irão surgindo os filhos, os quais necessitarão, para sua educação e boa formação moral e espiritual, do calor dos pais e de um lar harmoniosamente constituído.

Extraído de Bases Para Sua Conduta, p.47-48


Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.