Iniciando o ano de 2021, com a chegada do verão, busquei refúgio nas montanhas, nos arredores de Nova Friburgo — localidade do estado do Rio de Janeiro conhecida pelo seu clima aprazível no verão, embora sujeita a fortes temporais; fazendo-nos tremer, no inverno, como no frio europeu, ainda que sem neve. Foi uma forma de atenuar o isolamento, fugindo do calor da metrópole, e ter maior contato com a natureza, graças a espaços livres, verdes exuberantes, pássaros — sem mencionar os mosquitos dos fins de tarde ou os vagalumes no início da noite …
Aluguei um chalé, estilo europeu, construído ao sopé de uma montanha, de frente para outra, cercado de árvores nativas da flora brasileira.
Numa ocasião, em que havia descido pouco mais de quinhentos metros, para ir jantar com meu irmão e a sua família, que residem ali, tive que esperar a chuva de verão passar para subir até o meu refúgio.
Subindo pela estrada, que ainda é de pedras e cascalhos, conversando com um dos meus sobrinhos, eu lhe disse: “tenho a sensação de estar andando no leito de um rio sem água, que agora já escoou”. Imediatamente ele retrucou: “Tia, todo vale é caminho de rios”. Sábia resposta.
A palavra ‘vale’ imediatamente fez com que recordasse minha infância, quando recebi o conceito de que ‘a vida era um vale de lágrimas’. E, de tal forma essa imagem ficou impressa na minha retina mental que não me permitia viver momentos felizes sem carregarem consigo a sentença fatídica de que, após a alegria, viria alguma coisa ruim, triste, fosse comigo ou com algum ente querido.
Sob tal impressão, a verdadeira felicidade seria muito difícil de ser alcançada. Eu teria que aceitar a vida, com suas duras lutas, tristezas e sofrimentos, como um ‘vale de lágrimas’, para merecer a graça de um momento feliz.
O que diz a Logosofia sobre os momentos felizes
O estudo dos ensinamentos da Logosofia tem me ensinado que a vida é uma experiência cósmica destinada a todos os seres humanos dotados de inteligência. Cabe a cada um vivê-la da melhor forma possível, segundo o conhecimento que tenha da própria realidade interna.
Que conhecimento maior poderia ser ensinado às crianças do que amar à vida pela grande oportunidade que ela oferece de realizações e, em decorrência disso, experimentar momentos de verdadeira felicidade?
Passados tantos anos, recordar a imagem adquirida na infância me fez ver que o que recebi foram falsos conceitos, cujos valores não coadunavam com a realidade que a própria Criação nos revela a todo momento.
Após uma tempestade com chuva, ventos e galhos caídos, a beleza se expressa na renovação da Natureza, servindo como um grande exemplo a ser seguido pelo ser humano.
A felicidade se experimenta em pequenas porções: quando realizamos esforços para lograr um êxito, quando cumprimos com nossas responsabilidades, quando ajudamos a alguém — experimentamos então uma felicidade que se fixa na consciência. São como dádivas que reverberam no coração toda a emoção vivida, sempre que recordamos o fato ou o momento vivido.
Acrescento ao rol dos momentos felizes a opção feita por andar pelo caminho do conhecimento. A sensação que tenho é de que as montanhas da sabedoria do Criador deixam fluir conhecimentos pelos vales mentais, eliminando a ignorância, a inconsciência, que, como as pedras, atrasam o avanço no processo de evolução consciente.
Os momentos felizes que tanto embelezam a alma são expressões místicas, certamente para nos fazer lembrar de que somos seres espirituais integrados na Criação Divina; logo, não devemos deixar, como ensina o autor da Logosofia, que a tristeza ocupe o lugar que pertence à alegria.