Desde criança, ouço minha mãe repetir a expressão: “A pressa é inimiga da perfeição”. Aprendi a repeti-la também para os meus filhos, mas até então nunca havia refletido sobre seu verdadeiro significado. Estou aprendendo que, antes de adotar um conceito, devo refletir, encontrar a sua razão de ser e seus fundamentos.
Assim, comecei a fazer algumas reflexões tais como: em quais situações minha mãe e eu repetíamos essa expressão? Por que a usávamos sempre? Identifiquei que usávamos como justificativa, quando ocorria um erro na execução de uma tarefa qualquer e estávamos com pressa para terminá-la.
Desde muito cedo, assumi responsabilidades cumuladas: estudar e trabalhar. Mais tarde, foi o trabalho e a vida de mãe, filha e esposa que me obrigavam a fazer tudo com muita pressa, a fim de conseguir cumprir horários. Era uma verdadeira escrava do relógio! Foram mais de trinta anos correndo de um lado para outro. Fui me acostumando a essa rotina, até que a pressa tornou-se parte da minha maneira de ser e de me comportar.
Sou pedagoga, recordo-me que trabalhava em duas escolas e tinha 90 minutos de intervalo entre uma e outra escola. Nesse intervalo, ia para casa com muita pressa, por isso acabava deixando a chave do carro, meus óculos e minha bolsa em qualquer lugar, o primeiro que encontrava. Na hora de sair, com o tempo pressionando meus pensamentos, ia pegar essas coisas que eram essenciais para desenvolver meu trabalho, mas onde? Onde as coloquei? Perdia muito tempo procurando e, muitas vezes, chegava atrasada ao trabalho. Aquela situação deixava-me muito desconfortável, passava o restante do dia irritada, impaciente e bastante ansiosa, mas não tinha consciência de que era a pressa que me fazia esquecer de tudo e, consequentemente, perder muito tempo.
Hoje, sou aposentada, ainda tenho muitas responsabilidades, mas nenhuma delas exige de mim rigor no cumprimento do tempo. No entanto, mesmo sabendo disso, observo que ainda atuo como alguém que tem, permanentemente, o pensamento da pressa.
Sou estudante de Logosofia e estou aprendendo a observar o que ocorre dentro de mim, no meu interno. Isso me ajuda a entender o verdadeiro sentido de uma outra expressão: “A pressa como negação do tempo”, apresentada no livro Introdução ao Conhecimento Logosófico.
O que hoje compreendo acerca das mencionadas expressões é que, se eu desempenho qualquer atividade com a minha mente pressionada pelo tempo, meus pensamentos ficam agitados, não consigo me concentrar naquilo que estou fazendo, pois já estou pensando também no que tenho a fazer logo depois.
Essa confusão mental faz com que eu fique desatenta e esqueça o que estou fazendo no momento. Por isso, na maioria das vezes, a atividade desempenhada não termina bem, sendo necessário refazê-la. Todo esse movimento de repetição de uma mesma tarefa faz com que eu perca muito tempo.
O autor da Logosofia ensina que a pressa é uma deficiência:
Vou destacar agora uma das tantas deficiências que a maioria dos seres apresenta, causa de muitos dos males de que padece o homem e, por consequência, a humanidade. Essa deficiência, que apresenta curiosas particularidades, é a pressa. Quem vive apressado, quem tem urgência para tudo, é quem dispõe de menos tempo, por perdê-lo habitualmente em coisas sem transcendência. A pressa, em algumas vezes fruto da impaciência, em outras, da ausência de controle na distribuição do tempo, torna o homem intolerante, violento, irascível e insensato. Esse febril afã de pretender que tudo se faça no ato ou que se encurtem as distâncias por obra de magia é tendência generalizada.
Em outro livro, Deficiências e Propensões do Ser Humano, ele ensina a identificar essa e outras deficiências e a ter controle sobre elas, para que se possa ter mais acertos e ser mais feliz.