Era adolescente. De férias, admirava a paisagem, no alto de uma pastagem, sentada debaixo de uma árvore de onde avistava montanhas e um lindo céu azul de inverno. Desde pequena, quando íamos ao sul de Minas Gerais, na fazenda dos meus avós, assistia meu pai escolher uma árvore bem frondosa, num local tranquilo, onde ficava um bom tempo estudando Logosofia. Ficava lá, sorvendo algo naquelas páginas que, pelo jeito dele, me parecia sublime. Sempre tive muita afinidade com meu pai, então, às vezes, eu o acompanhava com o meu livrinho: bases para sua conduta.
Naquele dia, nas férias, fui sozinha, apenas seguindo aquele exemplo inspirador. A paisagem na fazenda era maravilhosa! O céu estava tão limpo e azul que me lembrou o infinito. Meus olhos percorreram a serra, as árvores da capoeira, o gado pastando tranquilo e senti que tudo aquilo, entre nuances de cores tão variadas e delicadas, toda aquela perfeição, só poderia ter sido um trabalho feito com muito amor… Percebi perto de mim o movimento de pequenos insetos e vi plantinhas com flores minúsculas, contrastando com toda aquela grandeza. Detalhes encantadores!
Minha vista, partindo do infinito, foi se voltando até mim e me enxerguei como parte da natureza, como parte da Criação. Momento sublime, inesquecível! Como se meus olhos pudessem me olhar por dentro, recordei que, um mundo tão grande e inexplorado como aquele que assistia, existe dentro de mim e eu estava aprendendo a conhecê-lo. Senti intensamente naquele momento a alegria de existir. Senti que fui criada com aquele mesmo amor e experimentei muita gratidão pela vida, recordando-me de Deus.
Sempre me senti atraída pelo assunto Deus. Uma vez, ainda pequena, perguntei à minha mãe:
Se toda criação tem um criador, então quem criou Deus?
Ela me respondeu para guardar aquela pergunta, pois era muito importante. Obedeci. Um dia, em um livro de Logosofia encontrei a resposta. Lá González Pecotche ensina que não podemos limitar Deus a nada, nem ao universo inteiro:
Não se enquadra na concepção logosófica que a criatura humana possa encerrar a Deus numa estátua, numa casa, num país, num continente, num planeta, ou mesmo no Universo inteiro, pois considera que tudo se mostrará limitado e estreito para as dimensões de sua Excelsa Imagem, inabarcável pela mente humana.
Naquele momento, diante da linda paisagem, recordei-me daquela pergunta e do infinito. Entendi que, se o infinito não cabe na minha mente, imaginar que algo criou Deus seria uma forma de limitá-lo a uma criação. Se na minha mente não cabe nem o infinito, como pretender que nela caiba tudo sobre o conceito de Quem o criou?
A Logosofia apresenta um Deus Universal, sem limitações de nenhuma espécie, que é capaz de criar tantas maravilhas por este Universo infinitamente grande, e busca sempre manter o equilíbrio através de Leis, demonstrando continuar o cuidado da Criação.
Aprendi que devo ir do pequeno ao grande, do pouco ao muito. Posso ir conhecendo Seu pensamento, na medida em que vou conhecendo Sua Criação, começando pela parte que está mais próxima de mim — que sou eu mesma. Desde aquele dia, lá na fazenda dos meus avós, tinha a certeza de que em mim também está manifesto o pensamento e o amor de Deus.
Antes eu entendia que Deus está em tudo que existe: na natureza, no universo e em mim também… Hoje compreendo que tudo que existe está em Deus, é uma parte de Deus, pois, de acordo com a lei da matemática, o menor não pode conter o maior, mas nos menores podem existir partes que estão contidas no maior. Assim estou aprendendo a buscar Deus pelo conhecimento, por esse conhecimento que está expresso em cada parte da Criação, começando pelo conhecimento de mim mesma.