Volto no tempo, no início da minha chegada a este mundo terreno, e imagino que eu seria como uma pequena pedra bruta que foi entregue aos meus pais para ser polida e transformada em uma joia de valor.
Não era uma pedra qualquer; era de boa procedência, soube mais tarde. Ficou a cargo de meus pais, durante um longo período da minha vida, que envolveu minha infância e adolescência, lapidar essa pedra para que ela, aos poucos, fosse tomando uma forma mais harmônica e agradável aos olhos.
Com as ferramentas que tinham e que dominavam bem, foram polindo e modelando um sulco aqui, outro lá, uns mais profundos, outros mais suaves, aparando arestas. E sempre me recordavam que, a partir de um determinado momento, eu teria de dar continuidade ao trabalho de criação.
Ainda que não estivesse em condições de assumir essa tarefa sozinha, comecei a observar o trabalho feito por eles e, embora apreciasse muitos aspectos, outros me incomodavam.
Manifestei essa insatisfação, que obviamente não foi bem recebida: “Como assim?”, perguntavam. “O que há de errado? É para seu bem!”
Eu me calava, inconformada, e apontava mais um aspecto esculpido na obra que me desagradava. E a resposta era certeira: “Quando você tiver condições de esculpir a si mesma, mude o que a desagrada. Por enquanto, tem que ser assim”.
Passaram-se os anos. Eu olhava aquela obra que faziam em mim e, intimamente, sabia que precisava modificá-la. Por mais que meus pais se empenhassem, não viam detalhes que precisavam ser polidos. Contudo, não queria magoá-los. Sabia da dedicação, do amor e do empenho com que modelavam aquela pequena “pedra”.
Chegou afinal o momento de assumir a minha própria escultura. Quanta alegria senti! Peguei as ferramentas para dar continuidade ao trabalho. Muitas eu manejava com facilidade; outras não serviam para dar o toque de originalidade que buscava. As que não serviam, deixei de lado e saí em busca de outras que pudessem dar a forma que eu queria.
Procurei ferramentas por um longo tempo. Cheguei até a encontrar algumas que atenderam às minhas expectativas, num determinado momento. Mas, à medida que observava a obra em construção, reconhecia que faltava algo de melhor qualidade para moldar a escultura que tinha em mente.
Foram anos de procura. Sempre buscando, sem desistir. Até que, finalmente, fui apresentada a uma grande escola de aperfeiçoamento, onde encontrei as ferramentas que buscava para dar continuidade, com segurança, à minha escultura.
Naquela escola, aprenderia a esculpir belas obras de caráter eterno. Seria uma aprendizagem longa e difícil, que exigiria de mim muito empenho e dedicação.
Aprendi, logo no início, que não deveria desanimar nas primeiras tentativas. Ao utilizar adequadamente as ferramentas, veria resultados que me encheriam de estímulo e confiança.
Havia mais um detalhe: somente ali eu poderia aprender a utilizá-las. Minha vontade de modelar cada vez mais essa escultura própria era tanta que aceitei o desafio. Nada se comparava à alegria de me tornar escultora de mim mesma!
Uma das primeiras ferramentas foi a paciência inteligente, que me permitiu estar atenta às necessidades da tarefa durante todo o tempo que essa escultura exigisse. Outra, foi a disciplina flexível que me conduziu a trabalhar com suavidade até conquistar um ritmo regular e duradouro.
A perseverança foi uma ferramenta difícil de manejar nos primeiros momentos. Entendi, depois de algum tempo, que sem ela minha escultura não passaria de um simples desejo. À medida que fui adquirindo maior domínio dessas ferramentas, precisei aprender a utilizar muitas outras que estavam a meu dispor nesse ateliê.
Hoje, passados tantos anos nesta escola de aperfeiçoamento, posso dizer que minha escultura vem tomando os contornos da forma como idealizei. Cada vez mais, venho dominando o manejo das ferramentas para dar continuidade à obra que foi dada aos meus pais em condições de pedra bruta.
Como é um trabalho para toda a existência, sei que tenho muito por lapidar. Ainda não adquiri a destreza no uso de algumas ferramentas, e, quando insisto em as utilizar, o resultado nunca é satisfatório.
Não tenho pressa. Depois de tantas buscas, estou convicta de que é nesta escola, mais conhecida como Fundação Logosófica, onde serei capaz de transformar essa escultura em uma obra de arte de valor eterno