Temos um grande poder dentro de nós, que utilizamos todos os dias, mesmo que não seja da melhor forma. É como se tivéssemos uma excelente ferramenta, mas, por não sabermos manejá-la com acerto, fazemos um uso parcial e incompleto de seus recursos. Esse poder é a capacidade que temos de recordar fatos, momentos, emoções e tudo o que fica registrado no livro de nossas vidas.
Digo que utilizamos a recordação de forma incompleta por alguns motivos, dentre eles, o fato de sobrecarregarmos nossa memória com coisas passageiras (notícias, demandas, problemas…). E apesar de parecer algo inofensivo, se fizermos uma análise justa, será que esse poder se resume a essa função? Por exemplo: quanto tempo dedicamos para recordar passagens importantes de nossas vidas?
Um capítulo que busco investigar com muita atenção é aquele cuja palavra Infância aparece no título. Afinal, quantos tesouros podemos encontrar nesse breve, porém elementar período de nossas vidas?
Eu me lembro de um dia em que estava caminhando com minha mãe para ir ao Shopping. Devia ter cerca de 8 anos e estávamos nos aproximando das festas de fim de ano. Despretensiosamente, perguntei a ela sobre como o chamado “Papai Noel” poderia saber se cada criança havia se comportado bem por todos os dias do ano, para merecer o presente tão desejado.
Na minha mente de criança, não fazia sentido que uma única pessoa fosse capaz de tamanho feito. Ela tentou me explicar, mas nada me convenceu a acreditar nessa história que, mesmo com poucos anos e um discernimento incipiente, me pareceu sem sentido. Por alguns anos, fingi acreditar no “bom velhinho”, afinal, minha dissimulação tinha um prêmio que era deixado na meia pendurada à porta. Em meu íntimo, porém, sabia que tudo não passava de lenda.
O pequeno relato que descrevi me proporcionou muitas reflexões. Me pergunto, o que me fez, desde tão tenra idade, ser capaz de discernir a quimera da realidade? Tal fato poderia ser explicado, se antes alguém houvesse desmentido a história do Papai Noel para mim, porém não foi o que aconteceu.
Em realidade, por muitos anos essa crença me foi inculcada, mas sempre resisti a aceitar a ideia, por me parecer absurda. Mas afinal, de onde vinha a certeza de seguir o que dizia minha razão?
Essa recordação é muito importante para mim, pois me auxilia a entender cada vez mais alguns segredos que se aninham em minha alma, desvendados pelas manifestações espontâneas que surgem com tanta naturalidade na infância.
São passagens assim que evidenciam algo intrigante: cada um de nós traz consigo uma herança individual, que se manifesta sempre que é demandada. São as aptidões que temos, surgidas no primeiro momento em que precisamos delas, e que podem ser aperfeiçoadas pelo exercício constante.
Do meu relato, pude observar que há em mim uma propensão natural de buscar entender como as coisas funcionam, utilizando a razão. Mesmo quando criança, essa sempre foi uma característica marcante, e hoje, procuro desenvolvê-la, por reconhecer seu valor para a vida, em todos os seus aspectos.
Com o recurso da recordação aplicado de forma consciente, pude acrescentar um elemento a mais a meu acervo pessoal, em outras palavras, pude conhecer um pouco mais a mim mesmo.
E você, o que recorda de sua infância?