Todos nós sabemos da importância da liberdade — uma das bases, talvez a principal, da democracia.

E é certo que, quando avançamos no entendimento da liberdade, percebemos que não podemos vivê-la adequadamente, se, ao exercermos o direito de usufruir dela, não atuarmos com a devida responsabilidade, respeitando a liberdade alheia. O direito e o dever sempre devem caminhar juntos.

O direito e o dever sempre devem caminhar juntos.

Um exemplo simples disso é quando escuto música em casa, algo que adoro. Entretanto, sempre me abstenho de colocar o volume muito alto, a fim de não incomodar os vizinhos. Nesse simples movimento, exerço conscientemente minha liberdade, harmonizando-a com a liberdade dos demais em prol da boa convivência.

Certamente há muitos exemplos nesse sentido, mas infelizmente também temos exemplos do contrário. Os mais graves podemos ver nos povos que vivem sob o regime do autoritarismo e da tirania, onde as liberdades de iniciativa e de pensar são tolhidas, mesmo que não firam a liberdade do semelhante. Ficamos comovidos com seu sofrimento, especialmente quando sobre o quanto esse modo de vida trava o desenvolvimento e o progresso individual e coletivo.

Devemos sempre ter presente o quão preciosa é a liberdade e fazer tudo para preservá-la.

Devemos sempre ter presente o quão preciosa é a liberdade e fazer tudo para preservá-la. No entanto, muitos de nós, sem nos darmos conta, atuamos contra ela. Um planeta só será livre quando o conjunto dos seus povos for livre. Um povo só será livre quando o conjunto dos seus indivíduos for livre. E um ser só será livre quando tiver dentro de si a liberdade de pensar e de sentir.

A verdadeira democracia deve ser conquistada dentro de cada um de nós. A humanidade transformar-se-á de dentro para fora, de semelhante a semelhante, e não de fora para dentro, em um processo de massa.

A verdadeira democracia deve ser conquistada dentro de cada um de nós.

E como conquistar essa liberdade interna?

Esse é um assunto muito profundo, com muitas nuances, mas podemos começar com o seu ponto fundamental: neutralizar os pensamentos tiranos que temos dentro de nós.

Os pensamentos tiranos são entidades psicológicas que vivem na nossa mente e nos levam a atuar de maneira tirânica e autoritária.

É possível identificá-los quando alguma pessoa manifesta algo que se contrapõe ao nosso pensar, e observamos a reação imediata da nossa mente que nos incita a impor ao outro a nossa própria forma de pensar, ou melhor, o nosso pensamento. Esse é o alerta, o sintoma para começarmos a nos analisar.

Uma vez que isso aconteça, podemos fazer uso de dois critérios para assegurar-nos de que se trata de um pensamento tirano. O primeiro é ver se a sua energia se manifesta com serenidade ou com violência. E o segundo critério é observar se o impulso é de querer que o outro mude, impondo-lhe reativamente outra forma de pensar, em vez de defender o respeito à liberdade individual que essa pessoa merece.

Quando estamos atentos a esse pensamento impetuoso em nós, não precisamos ter dúvida: identificamos um pensamento tirano dentro de nós. E ele não é apenas tirânico com as demais pessoas, mas também dentro de nossa própria mente, impedindo que qualquer nova reflexão surja para ampliar o pensar e o sentir. Isso é o que ocorre, em maior grau, na pessoa que chamamos de fanática, que sofre da tirania desses pensamentos com tamanha intensidade que não consegue ver nada para além deles.

Ao identificarmos um pensamento tirano, não devemos ficar tristes, mas sim alegres. A maioria de nós os temos interiormente, mas na hora em que ele é identificado, podemos substituí-lo.

Ao identificarmos um pensamento tirano, não devemos ficar tristes, mas sim alegres (…) podemos substituí-lo.

Os pensamentos se fortalecem na ação. O primeiro passo que eu recomendo então é calar, exercer a contenção e buscar serenar a mente. Não atuar ou falar mediante o influxo desse pensamento, enquanto sentirmos seu efeito dentro de nós.

O segundo passo é começar a criar outro pensamento, outra forma de atuar, para que, em vez de apenas neutralizarmos sua atuação, possamos anulá-lo gradualmente e substituí-lo por um novo jeito de pensar e de sentir.

Aplicando tal procedimento, conseguiremos a liberdade interna e, assim, colaboraremos para que a liberdade externa permaneça.

Precisamos conquistar essa liberdade interna em todas as esferas da vida — no trabalho, na espiritualidade, na família, na política, na alimentação; em todos esses aspectos temos conceitos que querem nos limitar, impondo, dentro e fora de nós, uma maneira rígida de ser.

E eu o convido, após ler este texto, a examinar a sua rotina, anotando os pontos que mais lhe perturbam, e verdadeiramente se perguntar: tenho liberdade interna nesse aspecto da minha vida?