Quando tinha 14 anos, ganhei um par de meias com uma estampa de trevo de quatro folhas que dizia na embalagem “trazer boa sorte”. Comecei a usá-la um pouco descrente de que teria algum benefício, mas o pensamento de que a meia traria boa sorte ficou em minha mente, ainda que um pouco tímido.
Usei a meia algumas vezes, mas certa vez decidi vesti-la em um dia de prova no colégio, pois era uma matéria em que eu não tinha muita facilidade e precisava tirar uma boa nota.
Fiz a prova com tranquilidade e a nota foi satisfatória. Aquilo me deixou em dúvida, será que a meia trazia mesmo sorte? Para ter certeza, comecei a usá-la em todos os dias de prova, ainda que tivesse estudado toda a matéria. Comecei a acreditar que a meia me dava sorte e com isso ficava mais tranquila para responder às questões — e as notas eram, de fato, boas.
Aí, pronto! Todas as vezes que tinha uma prova queria ir com a tal meia porque achava que precisava dela para ter um desempenho melhor, ainda que estudasse a matéria. E a meia durou tanto que fiz o vestibular e até mesmo o exame para tirar minha habilitação com ela.
Entretanto, a meia estava ficando bem velha, mesmo sendo usada somente em “casos especiais”. Agora eu teria de arrumar outra meia…
Mas, peraí, como um objeto tão simples poderia mudar minha nota ou desempenho?
Por que eu permitia que um objeto fosse responsável pelo meu sucesso?
Eu passava horas estudando e preparando-me para as provas, mas, ainda assim, atribuía a conquista à sorte que a meia me dava. Desse jeito, se um dia eu acreditasse tanto em um amuleto da sorte e deixasse de estudar ou de me preparar para viver as situações, poderia frustrar-me bastante…
Fazendo essas reflexões, e até mesmo pelas condições da meia, decidi jogá-la fora. No início foi difícil, pois eu havia perdido a confiança em mim mesma e sentia falta de ter algo em que acreditar. Eu não conseguia reconhecer que as situações vividas eram fruto do meu próprio esforço e capacidade; achava que tudo era por acaso.
Muitas vezes desejei depositar a responsabilidade em algo externo, em algum objeto ou em outra pessoa… Sempre confiando no acaso, deixando de lado o meu próprio esforço.
Entretanto, com o tempo, vi que minhas notas se mantinham ou eram até melhores. Observei que, quando me dedicava e preparava para viver alguma situação, fosse uma prova, entrevista de emprego ou qualquer outra circunstância, o resultado era feliz, já que era fruto da minha dedicação. Mesmo que não fosse o que eu esperava, poderia aprender com a situação e capacitar-me para uma próxima vez.
Estudando Logosofia, eu deparei com o seguinte:
Após estudos e reflexões, compreendi que não devo acreditar que algum objeto ou alguém me trarão boa sorte ou sucesso, pois sou capaz de alcançar meus objetivos, desde que me dedique e me esforce para isso. Costumo contar com o auxílio de outras pessoas, no entanto, o que realmente importa é como atuo frente às situações. Minhas conquistas dão-se mediante o que eu faço conscientemente — e não podem ser creditadas ao acaso, a um simples amuleto da sorte.