“E começa mais um clássico no gramado. A paciência sai com a bola, passa para a honestidade, a honestidade toca para a perseverança, que chama a veracidade, a veracidade tenta um passe mais longo, mas perde a posse de bola para a hipocrisia… a hipocrisia chama a indiferença, a indiferença toca para a indiscrição, a verborragia tenta chegar junto, mas a concisão chega a tempo… que bela recuperação de bola!”
Você já viu um jogo de futebol assim? Pois eu já. Na verdade, assisto a um jogo como esse todos os dias. Essa disputa acontece dentro de mim. Quem nunca se deparou com dilemas como: revelar ou não a conversa que ouvi do chefe? Cortar ou não a fila do engarrafamento pelo acostamento? Devolver ou não a bolsa que encontrei na rua e que sempre quis ter? Oferecer ou não ajuda quando estou com pressa? Falar ou não para o garçom que veio faltando um valor na conta?… Esses são apenas alguns exemplos dos muitos duelos que acontecem dentro de mim.
Os incontáveis escândalos de corrupção que vemos em nosso país e no mundo reforçam em mim a vontade de mudar o mundo. Porém, não sinto vocação para assumir cargos importantes ou envolver-me na política. Então, como ajudar a mudar o mundo?
Isso é algo muito simples de concluir, mas muito difícil de colocar em prática. Pois foi assim que me vi diante daquela linda bolsa, que nunca tive dinheiro para comprar, e que, por uma casualidade, havia caído em minhas mãos! Pela boa educação que recebi de meus pais, em nenhum momento cogitei ficar com ela. Mas isso não impediu que eu visse dentro de mim alguns movimentos: “Por que devo devolver algo que achei na rua? Quem me garante que, se fosse eu quem tivesse perdido a bolsa, a pessoa que a encontrasse também me devolveria? Se eu a encontrei, quem sabe não era para ser minha? Além do mais, ela é tão linda…”
Entendi que não basta devolver a bolsa apenas porque assim me ensinaram, se dentro de mim persistirem pensamentos de corrupção. A cada um desses movimentos mentais a Logosofia dá um nome, que estou aprendendo a identificar: ambição, egoísmo, propensão a confiar no acaso, isentando-me da responsabilidade por minhas ações, entre tantos outros. Com esses conhecimentos, consegui devolver a bolsa à sua dona, não com resignação, mas com verdadeira convicção, ficando quite com minha consciência e fortalecendo ainda mais os valores que quero que rejam o mundo.
O jogo de futebol continua acontecendo, a bola está em campo o tempo todo, desde que acordo até a hora em que me deito. Ao devolver o que não é meu, ao respeitar a lei não trafegando pelo acostamento e ao ser paciente ajudando o outro, estou dando a minha contribuição para um mundo melhor. Por outro lado, quando sou desonesta, não falando ao garçom que a conta veio errada, ou sou indiscreta, relatando a conversa que ouvi, estou contribuindo para piorar o mundo.
E aí, em qual time você quer jogar? Qual time você quer que ganhe? O que me resta a dizer é que vença o melhor. Bom jogo para todos!