Já realizei viagens pelas profundezas da terra, no interior de cavernas. Vi a beleza de salões monumentais numa mina de sal; verdadeiras obras de arte, esculpidas pelas mãos humanas na rocha salgada. A reflexão que surgia era com um possível desabamento daquelas estruturas e o que eu sentiria se ficasse preso naquele lugar.
Trabalhadores soterrados em minas causam comoção mundial. O mundo acompanhou um celebrado resgate, que envolveu 33 homens na Mina de San José, no Chile. Eles permaneceram presos a 700 metros de profundidade, durante quase 70 dias.
Há um fato semelhante ocorrendo neste momento: existem milhões de seres humanos soterrados pelos escombros de uma vida insípida, vulgar e vazia, sem qualquer vestígio de vocação superior. Qual a diferença?
Os mineiros ficam aflitos, sentindo a vida por um fio, mas sabem que é a luz, o ar, a água e a comida que estão escassos. Eles também podem tocar o paredão de rocha e terra que bloqueia a saída.
Já as pessoas soterradas por uma vida vazia não conseguem explicar o que lhes falta. É a doença do vazio. Elas sentem que estão carentes de um bem fundamental, mas não sabem o que fazer para preencher esse vácuo devastador na alma.
Este tem sido o mal dos séculos: falta uma direção superior para orientar a existência. As pessoas estão ansiosas, tristes, deprimidas, consumindo antidepressivos… e não conseguem descobrir a causa da agonia e do tédio em seus dias. Subordinadas a objetivos materiais, não enxergam o paredão que as prende a uma vida incolor, sem graça e sem sentido. É essa muralha invisível que obstrui o caminho que liberta, impedindo de seguir em frente e construir a alegria de viver.
Às vezes, surge um lampejo de satisfação que logo passa, restando apenas a fumaça, semelhante aos fogos de artifício na noite de réveillon; por isso a sensação de uma felicidade sempre incompleta. É o caso das pessoas ansiosas pelo fim de semana, férias e festas. Algumas se entregam ao entretenimento como um analgésico, consumindo o tempo com futilidades. Quando esses momentos fugazes terminam, reinicia uma jornada insuportável e pobre de conteúdo e significado. Essa é a razão de tanta gente detestar a segunda-feira. Essas vidas carecem de sentido, desconectadas do propósito essencial da nossa vinda ao mundo: o aperfeiçoamento integral.
Há mais uma diferença. Nos acidentes, os mineiros ficam trancados dentro da mina e não conseguem sair, enquanto as pessoas — que não despertaram para a finalidade suprema da existência — ficam do lado de fora, não conseguem entrar. Entrar onde? Por quê? A vida superficial vai formando uma parede impermeável que impede as pessoas de entrarem em si mesmas. A inteligência fica limitada e não permite ao ser de conhecer a si mesmo. São pessoas expulsas de seu mundo interno, único lugar onde se pode encontrar as máximas aspirações humanas: a paz, a felicidade, a liberdade e a sabedoria superior que envolve a espiritualidade.
A Logosofia nos ensina que temos uma natureza física e uma natureza espiritual, devendo haver plena harmonia entre elas. A doença do vazio denota exatamente a falta de atividade da natureza espiritual, que reclama nossa atenção e requer o protagonismo que deve ter em nossa vida.
Somos um espírito que possui um ser físico, e não o contrário. O vazio interno ocorre porque invertemos os papéis.
Ao iniciar os estudos logosóficos, aprendemos que há, nesse nosso mundo interno, um cheio que precisamos esvaziar e um vazio que precisamos preencher. E que, nesse mundo interno, atuam os nossos pensamentos, que são os agentes causais de nossa psicologia e, consequentemente, de nosso comportamento e conduta. Tudo que fazemos ou deixamos de fazer tem por trás um ou mais pensamentos.
Conhecer a realidade dos pensamentos e selecionar os melhores é o primeiro passo para a conquista deste mundo interno, e esse é o preparo necessário para a atuação do espírito em nossa vida.
Quando nos esforçamos em busca da vida interna e de nosso aperfeiçoamento, nosso espírito é atraído para o campo de ação e sentimos vibrar as fibras de nossa alma.
O ser consciente e feliz é aquele que abriu o acesso ao seu mundo interno e tem buscado as preciosidades que estão dentro de si mesmo. Esse divino garimpo jamais oferece risco, porque estamos protegidos pela autoconfiança e pela maravilhosa lucidez que garante o êxito equilibrado em todos os setores da vida. É assim que nos tornamos garimpeiros universais, descobridores de valiosos minérios do saber transcendente que compõem as reservas imortais da nossa herança espiritual.