Pedagogia Logosófica

Quem são as crianças?

abril de 2023 - 4 min de leitura
Pedagogia Logosófica

Quem são as crianças?

abril de 2023 - 4 min de leitura

O que significa ser criança? Neste artigo, Paula Lannes explica os recursos que a Pedagogia Logosófica aplica nos cuidados com a primeira infância.

Uma pergunta que inquieta e traz em si muitas reflexões — pensar sobre o que significa ser criança é ter a possibilidade de entender a infância e o porquê de todos nós passarmos por esta fase na vida. A partir disso, conhecer o que é preciso realizar para que a criança tenha seus direitos garantidos e possa desenvolver-se em um ambiente adequado e saudável. 

A Ciência Logosófica apresenta o ser humano como um ser dotado de duas naturezas, uma física e outra espiritual. Ao nascermos, já manifestamos aspectos da vida física, em todo o seu potencial biológico e psicológico, como também da vida espiritual, através da herança individual de cada ser. A nossa parte psicológica é formada por três sistemas (instintivo, mental e sensível) que vão sendo desenvolvidos durante a vida. Contudo, vale ressaltar que a criança na primeira infância age movida por dois impulsos — o instintivo e o sensível — que alternam entre si, já que são poucas as faculdades mentais em funcionamento (observação, imaginação e memória); as demais vão sendo ativadas mediante os conhecimentos que serão assimilados ao longo da vida. Neste ponto, a educação cumpre o papel fundamental de oferecer à criança os melhores elementos que a levem a começar a entender o mundo e a querer participar dele. 

Desta forma, a infância precisa ser uma fase da vida em que a criança sinta confiança em estar no mundo; por isto é muito importante protegermos sua mente de imagens violentas, como de coisas que ela ainda não é capaz de compreender. Este é um dos recursos que a Logosofia apresenta no cuidado da primeira infância, no olhar atento a tudo o que a criança esteja observando, sejam filmes, desenhos e até cenas cotidianas, a fim de evitar que momentos ruins fiquem gravados na sua tela mental. Em contrapartida, oferecemos à criança os melhores estímulos para a vida: os naturais, fundamentados em elementos reais, verdadeiros, que a criança possa comprovar em suas experiências e a façam viver também com alegria, ativamente e entendendo que, dentro de sua mente, habitam pensamentos que ela deve conhecer para saber selecionar os que são úteis à sua vida. 

Para educar um ser, a Pedagogia Logosófica ensina, como algo imprescindível ao docente, realizar um autoconhecimento que o leve a se conhecer com profundidade, para estar atento a tudo o que acontece dentro de si e que, ao ensinar, seja exemplo, uma vez que a criança aprende imitando. E, então, ainda que no exercício de educar cometa erros, o simples fato de mostrar à criança como lidar com eles, é, em si só, um recurso valioso para a vida, uma vez que, ao identificar-se o erro podemos superá-lo. 

Assim, tudo é motivo de reflexão docente, que implica nutrir-se dos melhores elementos para explicar à criança o motivo de cada coisa. Com isso, pode-se ensinar às crianças a pensar e, à medida que crescem, ir adquirindo mais consciência destes movimentos mentais e também sensíveis, sabendo compreender porque ficou triste ou contrariada e a mudar esses estados internos. São conhecimentos poderosos que, ao serem assimilados, tornam-se um conteúdo da vida que dão ao ser a prerrogativa de desfrutar de uma verdadeira liberdade, pois que já deixa de ser refém dos pensamentos, uma vez sabendo que nem sempre aquilo que está realizando é fruto do seu querer, vindo, às vezes, de algum movimento externo, ou de outras pessoas, ou do ambiente; saber disso faz com que a criança, já maior, entrando na adolescência, possa ir se protegendo. 

Por isso, o educador (mãe, pai, professor e demais agentes educativos) é tão valorizado na Ciência Logosófica, pois ele é capaz de dar o tom da relação, sabendo entender o ponto em que a criança se encontra, respeitando o seu tempo e agindo com paciência inteligente, que significa realizar tudo o que precisa ser feito enquanto aguarda o tempo certo do florescer de uma aptidão. 

É uma tarefa árdua e delicada, considerada uma arte por González Pecotche, o criador da Logosofia, e que só é possível concretizar quando o docente consegue tocar a sensibilidade da criança, estabelecendo um vínculo capaz de abrir o entendimento para as manifestações da criação. Com mãos seguras e afetuosas, o docente conduz a criança, de forma que, a partir das experiências que a vida lhe oferece, ela consiga cultivar virtudes de inestimável valor para a vida. Assim, ao despertar sua natureza espiritual, a criança não só desenvolve o seu intelecto como também sua sensibilidade, que traz consigo inquietudes a respeito do que significa ser humano e habitar este mundo e, com isso, permite que a vida tenha uma direção, um sentido, um norte. 

A criança chega a este mundo com muitas possibilidades, fruto da sua herança, mas muitas vezes algo faz com que, no caminho, ela vá perdendo o verdadeiro gosto por viver, distanciando-se do real sentido de estar aqui. Esta fase da vida é, portanto, preciosa, devendo ser cuidada com muita sabedoria para que ao educar possamos tornar real o que é potente na criança, fazendo com que o brilho que ela tem nunca se perca e que possa crescer a cada dia. Nesta bela trajetória, o docente vai descobrindo que em seu interior há também uma criança, e que precisa se reconectar com ela para entender os mistérios que envolvem sua vida. E conviver com crianças é um convite para resgatar nossa herança, a fim de compreender quem somos, quem são essas crianças com quem convivemos e, principalmente, aquela que já fomos. 


Um pensamento de

 Paula Lannes
Paula Lannes, assessora educacional do Colégio Logosófico no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. É formada em direito e pedagogia pela PUC-Rio e mestre em educação. Estuda e é docente de Logosofia no Rio de Janeiro desde 2006.

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