Sociedade

Observando a marcha do mundo

junho de 2020 - 5 min de leitura
Sociedade

Observando a marcha do mundo

junho de 2020 - 5 min de leitura

Como integrantes desta caravana humana a caminho da eternidade, devemos equilibrar periodicamente as diversas forças da gravidade, que atuam para dar um sentido a essa viagem multimilenar. Esta foi sempre tão ofuscada por paixões e ambições, lutas e rupturas, que em todas as épocas obrigou os pensadores a colocar para si a angustiante questão, se chegarão dias venturosos de ascensão moral e espiritual para o homem. Ou se não há outro caminho que o homem possa tomar, que não seja o da corrida vertiginosa de destruição em que se encontra.

Como integrantes desta caravana humana a caminho da eternidade, devemos equilibrar periodicamente as diversas forças da gravidade, que atuam para dar um sentido a essa viagem multi-milenar.

Esta foi sempre tão ofuscada por paixões e ambições, lutas e rupturas, que em todas as épocas obrigou os pensadores a colocar para si a angustiante questão, se chegarão dias venturosos de ascensão moral e espiritual para o homem. Ou se não há outro caminho que o homem possa tomar, que não seja o da corrida vertiginosa de destruição em que se encontra.

O deveres humanos para o futuro próximo

Temos o dever de observar as realidades e delas extrair os ensinamentos que se apresentam, por assim requerer a consciência, a fim de cooperar nas orientações mais propícias ao bem geral e para nos afastarmos dos desvios, adversos ao saudável sentir e às melhores aspirações.

É necessário dar andamento a esse dever, para que possibilite a concorrência das reações saudáveis e ter a melhor participação neste imenso drama, no qual ninguém possa deixar de ser ator pelo mandato inescapável da lei suprema.

Há dois anos* desde que terminou a maior das conflagrações ocorridas até o presente, devia ficar bem fundamentada a esperança, de que se iniciaria uma nova era de paz, respeito e tolerância como compensação a tanta morte e sofrimento. E da mesma forma como lição indelével de que as forças destrutivas jamais poderão substituir a da sensatez e a da razão.

A Carta do Atlântico, primeiro, e a instituição das Nações Unidas, depois, alicerçaram essa esperança que, não obstante, foi se diluindo dia a dia por uma sucessão interminável de fatos. Estes provaram que a incalculável matança e os estragos ocasionados pelas duas últimas guerras sofridas pela humanidade, com sua sequela de calamidades que ainda continuam e ameaçam aumentar suas devastações, não modifica em nada o estado mental dos homens, tão profundamente perturbado.

O trabalho pela paz e pela democracia

Ante este panorama desalentador, que continuamente se ensombrece com problemas e conflitos, um fato singular, reconfortante e sem precedentes na história humana vem tonificar o espírito. As forças da verdadeira democracia e da paz se obrigam todas a somar forças, se necessário for, para tornar efetivos os postulados da fraternidade e da civilização. Forças estas unidas solenemente em um grande tratado continental com o objetivo de proibir a agressão bélica de qualquer procedência e até a intromissão nos assuntos internos, próprios de cada nação.

É a conquista mais importante de todos os tempos. Esta que os povos do Novo Mundo realizaram recentemente na Conferência do Rio de Janeiro. Povos que nasceram há pouco menos de dois séculos ao influxo da liberdade e da democracia, para formar hoje o mais robusto baluarte da paz e dos direitos humanos.

A magnitude deste acontecimento se aumenta frente ao espírito de conquista e ataque, que ainda se estende ameaçador por outros continentes. E este perigo mundial, tão grande e tão extenso nestes dias, é o que dá ao mesmo tempo maiores destaques, dentro do marco das Nações Unidas, ao contrato pacífico e democrático dos povos americanos.

O recente tratado continental do Rio é particularmente grato para o pensamento logosófico. Este é adepto à toda ação que promova a paz e o bom entendimento entre os homens, e defensor do anelo da estreita união das Américas, como veio demonstrando através de múltiplas publicações.

Assim atesta Raumsol na obra “Nova Concepção Política da qual é autor, ao dizer: “Defendamos a formação do eixo Buenos Aires – Rio – Washington, que, ao constituir o Grande Ternário Americano, unirá os demais países do continente, estabelecendo um bloco de nações irmãs, cujas fronteiras serão impenetráveis para os usurpadores de pátrias e lares.

Despertemos nosso espírito desse torpor cidadão, que retarda as decisões mais heroicas e nos ponhamos todos de pé, como um só homem, como um só coração e uma só vontade, já não para pronunciar frases vibrantes de patriotismo, senão para trabalhar pela grandeza de nossa pátria, começando por defendê-la como as circunstâncias atuais exigem, fazendo um balanço das forças armadas, que permita reforçar com maior presteza os meios de defesa que possuímos.

“Devemos considerar e admitir como uma advertência capital, que o inimigo não se apresenta de repente, como nos demonstra a volta da política expansionista dos regimes de força. Vai se introduzindo pouco a pouco, de tal modo que quando se dispõe a tomar um país, já tem organizado dentro dele um exército oculto, que opera secretamente, chegando a paralisar as defesas do país, marcado para ser vítima da derrubada.

“Estes fatos destacam que é necessário formar parte da defesa nacional, a imediata intervenção de todo agrupamento alheio à consciência do povo argentino, não permitindo, como não permite a Alemanha nem a Itália e nem a Rússia, a menor organização que não seja regida e controlada pelo Governo.”

E mais adiante, depois de aludir ao complô abortado do Rio, Raumsol continua: “A circunstância registrada mostra a gravidade e o perigo das intromissões estranhas ao continente. Por isso faz-se necessário realizar de forma definitiva a consolidação da amizade e união interamericana formando o Ternário Ocidental, que recomendei anos atrás, quer dizer, a união permanente das três Américas em um bloco continental. Existe a melhor boa vontade e já se revelou em todos os países, que formarão esse Ternário.

“O momento não pode ser mais oportuno, e a ação conjunta de profilaxia continental não poderia ser mais eficaz. Estando os governos inspirados em um elevado patriotismo, cabe esperar resultados muito grandiosos dessa conjunção de forças americanas em defesa e preservação do continente inteiro.”

A realização deste fervoroso anelo do criador da Logosofia, mesmo após alguns anos de tê-lo expressado e repetido, é particularmente auspiciosa. Ela adquire um maior sentido neste momento atual, quando a crise se agrava. Convoca-se a assembleia magna das Nações Unidas para encarar a solução de problemas capitais, que atentam contra a paz mundial, para os quais foram improdutivos os melhores empenhos das nações defensoras dos direitos humanos.

Nos momentos em que os problemas da paz mundial se aproximam dessa encruzilhada que exige inevitavelmente a solução ou o conflito, conforta, repetimos, que o pensamento logosófico, enunciado inúmeras vezes com bastante antecipação, tenha se confirmado em momentos tão críticos para o mundo.

Levantou-se a muralha da defesa mútua entre os estados americanos ao mesmo tempo que ofereceu adesão às Nações Unidas no propósito irrevogável de defender a paz mundial e os direitos humanos consagrados na memorável Carta do Atlântico.

Do livro “Nova Concepção Política”

*Artigo escrito em 1947

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Um pensamento de

 Erasmo Arrarte
Erasmo Arrarte, foi estudante de Logosofia na década de 40 na Argentina.

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