Comportamento

O serrote, o dedo e a piada

dezembro de 2025 - 4 min de leitura
Comportamento

O serrote, o dedo e a piada

dezembro de 2025 - 4 min de leitura

Era um dia quente de outubro . Acordei um pouco infeliz e, para relaxar, resolvi fazer uma poda nas plantas do jardim da minha casa. Um galho estava me incomodando havia um tempo, e vi que era a ocasião perfeita para estrear um serrote bem afiado que havia ganhado de presente de uma pessoa querida.

Minha filha de dois anos ficou me observando enquanto eu descontava parte da minha insatisfação naquela poda. Eis que, em um momento de descuido, “pic”: o    serrote cortou o dedão da minha mão esquerda, o “joinha”.

Não tive coragem de olhar. Corri até a janela do escritório do meu marido e pedi para que ele verificasse. Ele foi enfático: “Hospital, agora!”. Nesse momento, muitos pensamentos começaram a surgir na minha mente

– Você tem um evento importante hoje à noite, não pode perder.

– Nem foi nada, é só um cortezinho.

– Mas a criança também… Ficou me distraindo!

No hospital, o diagnóstico não foi bom: era preciso operar imediatamente. Não gostei nada daquilo… 

Eu disse aos médicos que não podia ficar internada, pois tinha muito a resolver. 

Ao falar isso, percebi o jogo dos pensamentos: primeiro, eles aumentaram as chances de ocorrer um acidente ao podar a planta no estado interno em que me eu encontrava. Segundo, os pensamentos não queriam que eu fosse ao hospital nem que o problema fosse resolvido.   

Felizmente, percebi a tempo. Consegui separar, em minha mente, o que realmente era a minha vontade e quais pensamentos não estavam de acordo com ela. Sabia que ter consciência disso me traria a capacidade de atuar com segurança e de confiar em mim mesma.

De fato, eu não estava confortável em operar naquele dia, pois nunca havia passado por nenhum procedimento dessa magnitude e queria fazer os exames pré-operatórios com calma. 

Aquele não era um caso de urgência, e o médico me disse que poderia esperar até   quinze dias antes que o tendão ficasse irrecuperável. Pedi, então, que me transferisse daquele hospital para um particular.

É aqui que começa a piada. 

A partir do momento em que decidi pela transferência de hospital, alguns obstáculos começaram a aparecer. E, com eles, mais pensamentos negativos… 

Eu precisava encontrar um recurso para lidar tanto com os meus pensamentos quanto com os dos demais. 

Em cada dificuldade, eu fazia uma piada. Atuava com alegria, fazia as pessoas rirem  – e, assim, o problema desaparecia.  E foram muitos obstáculos: a transferência de hospital que não foi aprovada, o médico plantonista que não aparecia, a dificuldade em agendar a cirurgia e realizar os exames pré-operatórios, entre outros. 

A todos, eu dizia, rindo: 

– Moço(a), eu sou advogada! Não posso ficar sem o “joinha” da minha mão esquerda! Eu preciso do meu “joinha” de volta!

Sempre arrumava algum jeito de fazer com que os atendentes, depois de boas risadas, se tornassem mais colaboradores. Aquela era uma atuação consciente. 

Eu sabia que estava eliminando, dentro de mim, os pensamentos pessimistas que “diziam” que nada daria certo ou que culpavam os outros pelo erro que eu mesma havia cometido ao cortar o meu dedo. E, ao eliminá-los dentro de mim, por meio de um método, sabia que também era possível afastá-los das mentes dos demais.

E sabe o que aconteceu, caro leitor?

Recebi prioridade de atendimento em várias situações. Atuei com alegria, fiz tanta piada que me tornei querida pelo médico titular, que sempre me atendia pessoalmente, enquanto sua equipe atendia aos outros pacientes. Recebi deliciosos lanches depois do bloco cirúrgico, ganhei abraços, fiz amigos. 

Aproveitei o tempo do pré e pós-cirúrgico para conhecer meus novos vizinhos pacientes. Contava a piada do “sou tão boa em podar que podei o meu próprio joinha”.

Foram dias muito especiais em minha vida. Poderiam ser lembrados com tristeza e frustração. Afinal, eu havia acabado de me mudar para uma casa muito ampla e fiquei dois meses sem conseguir realizar as tarefas mais básicas, como cozinhar e varrer. Além disso, estava terminando a escrita da minha tese de doutorado e fiquei com a mão esquerda imobilizada.

No entanto, nesses dias pude comprovar que a Logosofia realmente me ensina a viver uma vida mais feliz e que é possível ser responsável pelos meus atos, sem sofrer. 

Todos os problemas foram se resolvendo com alegria – até a tese, que defendi um mês após a cirurgia. 

A piada era utilizada somente como um recurso. Sem compreender a minha vontade e sem remover os pensamentos que me faziam reclamar de tudo, não seria possível colocar a alegria no lugar. 

Poder confiar em mim mesma e ter uma conduta alegre diante dos obstáculos que a vida nos impõe certamente valeu muito mais do que o meu “joinha” consertado – e olha que a reparação ficou muito bem-feita!

Tendo-se experimentado que a tristeza, o desgosto e até a indiferença deprimem e diminuem a força da vida, é inegável que também se pode experimentar que a alegria é vida; mas não a alegria externa, senão a que nasce do interno, ou seja, a alegria que surge da consciência (...).
Introdução ao Conhecimento Logosófico

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