Quantos papéis você desempenha em um dia qualquer?
A semana começou bem. Acordei cedo, vesti meu figurino de atleta e fui para a academia. Fiz meus exercícios e voltei para casa, onde troquei a vestimenta para a próxima cena e saí.
Lembrando que precisava de alguns itens, passei na farmácia para comprá-los. Demorei mais do que devia, porque não pesquisei as especificações antes – e acabei chegando atrasada ao trabalho. Estava com uma lista enorme de pendências e comecei a tentar resolvê-las, mas o tempo todo me distraía com o celular.
Na hora do almoço, percebi que tinha esquecido a marmita em casa e precisei sair para comer. Lá pelo meio da tarde, uma colega apareceu pedindo ajuda, então pausei as atividades e dediquei uma meia horinha ao novo assunto. Talvez mais. Quando me dei conta, já era quase hora de ir embora; saí apressada e esqueci que tinha combinado de ligar para minha irmã, que mora longe. Passei no mercado para comprar o necessário para cozinhar em casa. Demorei a estacionar e cheguei estressada.
Fiz minha rotina de fim de dia e, então, meus pais me chamaram para assistir a uma série com eles, mas eu não podia. Sentei em frente ao computador para finalizar o que não tinha conseguido durante o dia – e acabei indo dormir tarde.
Acordei atrasada, vesti meu figurino de atleta e fui para a academia…
Ninguém precisa ser ator, nem decorar falas, para apresentar, todos os dias, uma produção bem complexa. Tem troca de figurino, mudança de cenário e variação de elenco – mas essa peça é de uma pessoa só. E ela, na verdade, nem está atuando; está vivendo a própria vida.
Mas como podemos equilibrar esses papéis? Como sustentar tantas vidas diferentes sem desequilibrá-las?
Eu me lembro de ter ouvido uma vez que todo mundo tinha que escolher apenas duas entre três opções: sucesso na profissão, na vida pessoal ou no cuidado com a saúde. Como se o tempo que temos não fosse suficiente para viver todas essas vidas bem, e algo sempre acabasse ficando de lado.
Pelo que observo, muitos se sentem assim: “Para o mundo que eu quero descer!”. Ficamos presos numa rotina automática e sobrecarregada, respirando só nos fins de semana e nas férias, para então começar tudo de novo.
Mas eu tenho entendido que podemos viver de uma forma diferente.
Muitas vezes, o que torna nossas várias vidas difíceis de conciliar não é tanto o tempo que gastamos em uma ou outra esfera, mas sim a inconsciência com que transitamos entre esses diferentes papéis.
Se eu deixo minha mente desgovernada enquanto passo de uma atividade para outra, pensamentos como falta de vontade, falta de memória e displicência atrapalham meu dia e fazem com que as minhas vidas não estejam em harmonia.
É o que acontece, por exemplo, quando, na pressa para sair de casa de manhã, preciso voltar umas três vezes por esquecer o celular, a chave ou o almoço – e nisso acabo me atrasando para o que tinha planejado. E quem nunca fez algo assim?
Embora seja importante dosar o tempo que dedicamos a cada vida, não é só isso que vai nos trazer equilíbrio.
Entendo que é como uma árvore com vários galhos que crescem paralelos, mas independentes: vida pessoal, vida profissional, vida social, vida familiar… e por aí vai.
Eu preciso ter um tronco forte na minha árvore. Preciso nutrir minha vida individual com conhecimentos que me mantenham consciente e, assim, conseguir viver essas diferentes vidas com unidade e harmonia.
Então não se trata de “parar tudo” – até porque o tempo e o movimento são leis universais. Por meio da atuação consciente, é possível alcançar um equilíbrio dinâmico.
As nossas vidas não param, e cabe a nós navegar cada dia da melhor forma possível: como seres únicos, não fragmentados, e conscientes da vida que vivemos.