Como um típico mineiro criado no interior, vivi uma vida que, se contada por um poeta, seria descrita como algo similar a “uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela para ver o sol nascer”. Mas havia algo que me movia a querer mais. Posso dizer que vivi durante muito tempo em busca de me mudar para a cidade grande. Enquanto isso não acontecia, meus pais, sabiamente, incutiram em todos os filhos que deveríamos ter um conhecimento na vida – mais especificamente, um diploma. Sonhos que eles próprios não puderam realizar. E assim, os filhos o fizeram.
Com meu diploma em mãos, pedi para sair de casa, para surpresa dos meus pais. Mas, passado o susto e acomodado o sentimento, consentiram.
Enfrentei esse mundo novo e, logo, se abriram diante de mim dois grandes mundos. No mundo visível, estava o material – necessário, porém, em alguns casos, sedutor. Nele, eu trabalhava com alegria e carregava sempre comigo uma comichão de enxergar o invisível: o mundo transcendente. Esse era o segundo mundo. E, junto com todos os afazeres diários, trazia também o sentimento de fazer o bem à humanidade. Naquela época, eu não conseguia explicar de onde vinha tal sentimento.
Hoje, com uma família formada e prestes a completar meio século de vida, apresento uma pergunta que recentemente calou fundo em mim:
Como viver em equilíbrio entre esses dois mundos?
Certamente alguns se verão dentro do panorama que vou expor: uma rotina diária extremamente apertada – acordando cedo e deitando tarde –, milhares de afazeres familiares, profissionais, sociais e particulares. Parece que o tempo anda mais rápido: respira-se uma pressão que, atrelada ao turbilhão de informações a que temos acesso, se torna uma ansiosa tensão diária. Por vezes, ouço, em tom de brincadeira séria, um ou outro dizer: “Pare o mundo que eu quero descer.”
Considerando isso , repito: como viver em equilíbrio?
Com a Logosofia – ciência que conheci há mais de duas décadas – aprendi que devemos sempre buscar o equilíbrio, o justo e a proximidade do normal. E venho acrescentar um elemento que, de tão simples, é complexo ao mesmo tempo: diariamente me consulto sobre o que fiz naquele dia. Para que essa consulta seja produtiva, é necessário conhecer muito bem o que se tem dentro de si, o propósito de vida que se cultiva, o que se espera de si mesmo; ter confiança na própria capacidade de realizar e humildade para reconhecer que ainda há muitos pontos a melhorar. Mas isto é o mais importante: conseguir, depois de um bom caminhar, olhar para dentro com a sinceridade de quem olha para si mesmo e perguntar: “Você viveu em equilíbrio hoje? Colocou, na devida medida, sua família – seus bens mais preciosos – dentro do seu tempo? Você aprendeu algo? E, sem se deixar levar por uma ansiosa tensão, cumpriu seus objetivos? Se sim – e essa medida é pessoal, – eis então uma vida equilibrada, que me faz ter um sorriso no rosto ao final do dia, em vez de acumular rugas de preocupação.
Certamente, este longo caminhar teve – e tem – altos e baixos, mas sempre em ascendência. Hoje, alguns perguntam: “Como você consegue ficar em paz e em equilíbrio nos dias de hoje?” Respondo que não é fácil, mas é possível colocar os problemas dentro da vida e não a vida dentro dos problemas, conforme ensina a Logosofia. E sigo em minha busca de viver uma vida com alegria e boa vontade – poderosos elementos que aprendi a cultivar.
E você, está vivendo em equilíbrio nos dias de hoje?