Equilibrando a paciência
Você sabe o que é slackline? Veja como a autora relaciona essa atividade física com o exercício da virtude da paciência.
O instante em que, com a melhor disposição de ânimo, se ajuda a um semelhante, como aquele em que, inversamente, se é ajudado, comovem profundamente o espírito. Nos dois casos, brota a felicidade e o ato, de verdadeiros caracteres emotivos, predispõe à gratidão: no primeiro caso, por ter sido permitido ajudar; no segundo, por ter recebido ajuda. (Coletânea da Revista Logosofia – Tomo II, p.229)
Não fui uma criança e uma adolescente grata. Tinha uma tendência forte a ampliar os meus problemas, a comparar-me sempre com os demais, desvalorizando o que tinha, o que era, o que vivia.
Em compensação, convivia diariamente com um ser imensamente grato. Uma pessoa que conseguia tirar das mínimas coisas e acontecimentos diários um motivo para se alegrar e agradecer, mesmo em momentos difíceis.
Olhava suas atitudes e pensava: como consegue? Quero muito ser assim, sentir essa serenidade, essa alegria e esse olhar “colorido” para tudo! Este ser era também muito generoso. Com o tempo, percebi a imensa relação que existe entre esses dois valores: quanto mais gratidão eu tenho, mais bem eu recebo e mais bem retribuo. Hoje, após meus estudos logosóficos, sei que isso acontece devido às Leis Universais, à afinidade entre os pensamentos.
Na adolescência comecei, com a ajuda dessa pessoa, que era estudante de Logosofia, a entender e a cultivar a gratidão. No início, usava seus exemplos para me ajudar a mudar minha conduta; procurava animar-me frente aos desafios, aos erros e às diferenças. Foi quando entendi que as lutas vividas por mim eram todas necessárias e que meu foco deveria estar no que me faltava cultivar para poder enfrentá-las com inteireza e sabedoria.
Pensando em alguns desses elementos, recordei uma experiência que vivi quando meu filho nasceu e precisou ficar hospitalizado por seis meses em uma UTI. Nós o visitávamos duas vezes ao dia, conforme o permitido. Sentia que, naqueles momentos, os médicos e os enfermeiros participavam muito mais da vida do nosso bebê do que nós, pais e familiares. Buscando ver o lado positivo daquela situação e minimizar meu sofrimento, passei a observar aqueles profissionais e a valorizar suas iniciativas, suas atitudes de bem, o carinho, a paciência, a atenção e o cuidado. Em face dos aspectos que me desagradavam, evitava que minha imaginação aumentasse a dimensão do desagrado, procurando sempre reconhecer o quanto era difícil atender a tantas crianças com variadas necessidades. Como fruto dessas observações, a cada aniversário mensal de meu filho enviava à equipe um bolo e uma cartinha, celebrando mais um mês de vida do nosso pequeno e agradecendo por tudo de bom que eles haviam feito. Uma simples atitude que fez muito bem ao meu coração e ao coração dos que recebiam. Tal bem repercutia em mim como um carregador de baterias. Isso evidenciava o poder das atitudes de bem: se você está sentindo-se cansado, sem energia, desanimado diante das lutas, experimente fazer um bem! Como ensina Gonzalez Pecotche
… o bem que se faz é vida que se dá e vida que pode voltar justamente quando a vida nos falta… é a vida que se reintegra quando haviam perdido todas as defesas.
O olhar colorido evitou que eu perdesse energia com coisas pequenas e até mesmo criasse desentendimentos que tornariam a experiência mais dura.
Daquela equipe de médicos e enfermeiros, saíram amigos queridos que nos acompanham até hoje, mesmo à distância. Profissionais que foram determinantes e que fizeram grandes sacrifícios em nome da vida e da recuperação de nosso filho.
Essa e outras experiências mostram que a sensibilidade e os verdadeiros sentimentos, como a gratidão, têm o poder de transformar e ampliar nossa visão sobre a vida. Assim, perante as dificuldades, o “olhar colorido” potencializa nossa mente, atraindo pensamentos de bem e forças internas que dão um sentido elevado e estimulante para sermos, a cada dia, pessoas melhores e mais felizes.