Recentemente, fiz uma viagem para o “fim do mundo”. Assim é conhecida Ushuaia, a cidade mais meridional do planeta, na Patagônia Argentina. Tive a oportunidade de conhecer muitos glaciares nessa região. Diante daquela imensidão de gelo branco com tons azulados, emocionei-me e senti o palpitar da Criação, transcendendo aquela paisagem física e conectando-se à minha própria vida.
Recordei que cerca de 90% da massa de um iceberg fica submersa, enquanto apenas 10% situa-se acima da água. Imaginei então a imensidão que eu não era capaz de enxergar com os olhos físicos. Algo similar acontece na vida do ser humano?
A Logosofia ensina que
Na contemplação, observação, meditação e estudo de cada uma das maravilhas dessa Criação, podemos assimilar a parte de essência que corresponde à nossa vida psíquica, ou seja, à vida de nosso espírito.
Será então que, além da vida física, existe uma vida espiritual? Por trás dos acontecimentos comuns, existe uma realidade transcendente? E o ser humano, ele é meramente biológico ou também possui uma conformação psicoespiritual?
Por meio dos estudos logosóficos, tenho encontrado algumas respostas para essas inquietudes, o que me tem permitido enxergar as experiências físicas para além dos 10% visíveis para todos. Sinto como se eu pudesse viver neste mundo físico, ao mesmo tempo em que acesso elementos de outro mundo, o mundo das grandes ideias, onde têm origem os pensamentos e sentimentos que fecundam a vida humana, o mundo metafísico.
Há algum tempo, uma pessoa querida para mim passou a lamentar-se por imaginar que não estaria aqui, fisicamente, para presenciar certos fatos importantes.
A partir dessas exteriorizações que, analogamente, representam os 10% visíveis, busquei identificar na psicologia deste ser a causa dessas manifestações, para poder ajudá-lo de alguma forma.
A ciência logosófica ensina a conhecer a psicologia e as tendências que habitam as mentes humanas. Nesse sentido, identifiquei algumas propensões, pensamentos negativos que se enquistam na mente e exercem pressão sobre a vontade para satisfazer determinada tendência. Dentre elas, a propensão ao pessimismo e à queixa.
Depois, busquei em mim recursos para colaborar. Além de atuar afetuosamente, propus que uníssemos os tempos no presente, revivendo o passado na recordação ao mesmo tempo em que preparamos o futuro. Assim, seríamos amigos da lei universal do tempo.
Essa pessoa costurou roupas para mim quando eu era criança. Propus então que agora ela costurasse para os meus futuros filhos.
Essa ideia promoveu movimentos felizes e sensíveis. Escolhemos juntos os tecidos, pensamos nos modelos e combinações de estampas e projetamos estar no futuro, imaginando meus futuros filhos usando roupinhas feitas com tanto amor.
Eu tenho vivido essa experiência conscientemente, buscando ir além dos 10%, e ela tem tocado-me profundamente. Nesses momentos de emoção, tenho a convicção de visitar o mundo metafísico, onde preside o pensamento de Deus.
Talvez esse alguém não esteja vivendo essa experiência com a mesma profundidade que eu, mas já fico feliz por promover ao menos um momento alegre, apresentando uma perspectiva discreta, mas diferente da que ele tem vivido. É isso que o conhecimento logosófico promove: a própria evolução e a possibilidade de colaborar com os demais.
Essa realidade também demonstra como os seres humanos vivem experiências semelhantes, mas de formas diversas, a depender dos próprios recursos internos. Enquanto alguns se satisfazem com 10%, outros buscam percorrer um caminho que os leva a um mundo com perspectivas ainda mais belas e transcendentes. E não é preciso ir ao “fim do mundo” para começar essa caminhada. O ponto de partida é o interno de cada um.