O homem não chora? O homem não sente? Claro que sim! E isso aumenta a felicidade, a gratidão e o vínculo com Deus e torna-nos muito mais fortes e felizes.
O conhecimento logosófico permitiu me aperfeiçoar e, com isso, passei a observar coisas na minha vida que antes passavam despercebidas.
Notei que, ao longo da vida, havia aprendido a me esforçar, estudar, conseguir um bom emprego, guardar dinheiro e formar uma família. Porém, cresci programado mentalmente nesse sentido, fazendo tudo como uma máquina, um autômato. Sei que as preocupações econômicas são fundamentais, mas é importante existir um equilíbrio entre a mente e o coração, entre a razão e a sensibilidade.
Observando isso, comecei a me conhecer mais, a enxergar mais as emoções e as pessoas que estavam ao meu redor e a sentir e perceber o desbloqueio de meus sentimentos com nitidez e calor.
Um belo dia, estava me sentindo muito bem internamente, sentia gratidão ao Criador do Universo, alegria e felicidade pelo calor do sol e pelo canto dos passarinhos. Olhava ao meu redor e sentia-me muito feliz por todo amor que tinha. Recordava da minha família, dos meus colegas de trabalho, estava tudo em harmonia. Quanta gratidão a Deus pelo tempo e pela saúde!
Nesse dia, senti muita gratidão aos meus pais, mais particularmente ao meu pai, que lutou e se esforçou tanto nas décadas de 1970 a 1990 para me sustentar e encaminhar-me pelos caminhos do mundo. Pensei e senti a necessidade de falar isso a ele, mas não só da boca pra fora, e sim com valor, com o coração, e de dar-lhe um forte abraço de gratidão.
No entanto, surgiu, um bloqueio, uma vergonha de falar e de abraçar com afeto um outro homem. Mas é meu pai! De onde vem este bloqueio?
No entanto, surgiu, um bloqueio, uma vergonha de falar e de abraçar com afeto um outro homem. Mas é meu pai! De onde vem este bloqueio? Meu pai sempre foi meu grande amigo, um exemplo de conduta honesta, equilibrada, serena, estava sempre preocupado, com uma pureza interna de ver os filhos melhores e mais felizes do que ele mesmo. Mas nossas conversas eram sempre sobre o trivial. Porém, eu estava enxergando outras coisas e queria falar-lhe sobre esse sentimento de gratidão. Eu rodeava-o, queria falar, enchia os olhos de lágrimas, disfarçava, afastava-me e não conseguia manifestar.
Em um domingo, onde tradicionalmente ele fazia o churrasco e convidava toda a família, fui determinado e preparado internamente para encontrar uma oportunidade e manifestar de forma reservada e natural a gratidão que sentia. Consegui. Abraçamo-nos e nós dois “durões” enchemos os olhos de lágrimas. Com a garganta doída, presa, sentimos uma felicidade inefável, imensa. Ocorreu um desbloqueio gigante, tanto em mim como nele.
Com a garganta doída, presa, sentimos uma felicidade inefável, imensa. Ocorreu um desbloqueio gigante, tanto em mim como nele.
Daquela vez em diante, quando viajávamos os 30 quilômetros que distanciam as cidades em que morávamos, sempre nos encontrávamos e nos abraçávamos fortemente e afetuosamente e olhávamos nos olhos, até o dia em que ele partiu deste mundo.
Hoje, eu sinto o vínculo espiritual e sua presença como em qualquer outro instante. Enquanto escrevo essas palavras, sinto sua presença, seus olhos e os vários abraços que nos demos e lembro das várias conversas que tivemos. Ele cumpriu sua missão com seus 75 anos!
Também sinto a sensação de que não faltou nada, sem culpa, nos vinculamos espiritualmente. Hierarquizo dentro de mim as alegrias, as coisas boas na linha do tempo e a imensa gratidão de ter conseguido aquele tempo antes, de ter aprendido, vencido e superado aquele bloqueio interno de falar o que sinto a quem eu realmente amo e fazer isso o quanto antes.
Ninguém sabe quantos amanhãs Deus nos dará para aprendermos neste maravilhoso campo experimental que é a Terra. “Tempo é vida”! Não é a quantidade de tempo, e sim a qualidade do tempo, de sentir e fortalecer os vínculos puros com quem se ama.