Desde criança, tive modalidade responsável e preocupada em cumprir as tarefas e orientações que me eram passadas pelos adultos. Minha mãe relata, por exemplo, que quando eu tinha que tomar algum remédio, eu mesmo a lembrava de ministrá-lo, sem que ela tivesse que se preocupar comigo. Essa característica me trouxe muitos benefícios, mas será que essa “responsabilidade” pode fazer mal?
Com o tempo, fui acumulando novos projetos, como é natural com a entrada na vida adulta. A cada nova responsabilidade – faculdade, trabalho, amizades, namorada, depois casamento – aumentava minha capacidade de realizar as coisas. Minha exigência comigo mesmo foi aumentando, à medida em que observava bons resultados vindos de meu esforço, mas aí também começou um problema.
A eficiência que era natural em mim foi chegando ao excesso, a ponto de se transformar em uma deficiência: passei a ser rígido comigo mesmo. Na medida em que esse pensamento de rigidez, de modalidade negativa, ganhou força em mim, ele se manifestava cada vez mais na minha conduta. Além de me tornar intolerante com meus eventuais erros, comecei a sê-lo com os erros de meus colegas e pessoas de convívio. O excesso de zelo dificultava a atuação da sensibilidade, tornando desagradáveis algumas interações com conhecidos e amigos.
Com o tempo, os efeitos nocivos dessa conduta rigorosa foram se agravando, e cheguei inclusive ao desgaste psicológico e à estafa. Eu me encontrava cansado frente às várias coisas que tentava fazer com perfeição. Percebi que precisava mudar, pois algo não estava bem, conforme o próprio sofrimento – uma reação corretiva da sensibilidade – me apontava.
Recorri aos estudos de mim mesmo, que faço com auxílio do método logosófico de mudança da conduta, que envolve quatro etapas bem lógicas (conforme orientações do livro Deficiências e Propensões do Ser Humano):
Para o caso da rigidez, o pensamento positivo indicado para substituí-la é a flexibilidade, com o objetivo de tornar o caráter mais elástico. Foi o que comecei a cultivar em meu mundo interno, como se cultiva uma flor, regando-a, oferecendo-lhe sol e cuidando para que vá crescendo aos poucos até que alcance um desabrochar muito bonito.
Seguindo o método, comecei a anotar todos os momentos em que eu me pegava atuando com rigidez. Como muitos destes ocorriam no trabalho, as oportunidades de combatê-la eram muitas, todos os dias! Assim fui fazendo, e consegui bloquear várias vezes a rigidez, colocando uma pitada de flexibilidade nesses momentos.
Se eu tinha, por exemplo, cinco coisas para fazer em um mesmo dia, todas “urgentes”, mas sentia que estava cansado, planejava-me para recuperar o trabalho em outro dia e fazia menos, talvez duas ou três coisas, buscando fazer dessas tarefas algo mais leve e proveitoso — sempre em busca do equilíbrio.
Bloqueava o pensamento de rigidez, que me falava coisas como: “Augusto! Não deixe para depois! Você se comprometeu a entregar isso hoje! Não será irresponsável da sua parte adiar a entrega para amanhã?!”. Descobri que, na maioria dos casos, é bem possível chegar à conciliação de forma aberta e honesta, seja com a pessoa que pediu aquele resultado, seja comigo mesmo, quando era eu que o exigia. Esse hábito de buscar a conciliação ampliou muito o meu vínculo com outras pessoas.
Fui percebendo o estrago que a rigidez estava fazendo em minha vida. Agora, já em momentos de um clima mais tranquilo comigo mesmo, sinto-me mais feliz, mesmo que tenha que enfrentar algumas tempestades de vez em quando. A técnica é estar sempre vigilante, com consciência, para nela depositar os valores – assim como as flores em um jardim – que eu for cultivando ao longo da vida.
Depois, será uma alegria poder oferecer aos demais as flores que cultivei, assim como estou fazendo agora neste texto.