Certa vez, uma historiadora me perguntou: “O que houve no Brasil em março de 1964: um golpe de estado ou uma revolução?” 

Recordei-me de minha pacata cidade natal e de jovens amigos. Enquanto jogávamos sinuca ou bebíamos guaraná no bar da praça, debatíamos ideias que iam do futebol às soluções para os problemas sociais. Ato contínuo, respondi: “Depende do lado em que se está”.  

Anos depois, necessidades me afastaram daqueles amigos. Com o propósito de estudar, cheguei a Ouro Preto. Novo regime em curso, e os debates em público foram silenciados e substituídos por conversas ao pé do ouvido e reuniões no quarto das repúblicas. Retornamos à época dos inconfidentes. Nas reuniões não havia debates, mas orientações para, dependendo do lado em que se estivesse, favorecer ou subverter os planos de governo. A desconfiança entre amigos se instalou. O mais interessante é que a figura do mártir Tiradentes variava conforme se queria: podia tanto atender a um lado quanto ao outro. 

Com o passar dos anos, as coisas foram se acomodando ao novo “estado de direito” e, lamentavelmente, a corrupção voltou a se instalar.  

Já formado, meus ideais e os de muitos daqueles jovens foram sendo abandonados ou esquecidos diante da realidade da vida sem a mesada, fruto do suor dos pais. Outros continuaram dando guarida a seus sonhos de liberdade e se tornaram artistas, políticos etc. Eu até convivi com alguns deles. Veio a redemocratização, eleições diretas, nova constituição e alguns, sentindo-se “revolucionários experientes”, foram eleitos pelo voto popular. Conquistaram, à mão desarmada, o direito de libertar o povo oprimido. Mas… novamente, com o passar dos anos, as coisas foram se acomodando ao novo “estado de direito” e a corrupção voltou, mais uma vez, a se instalar. 

Hoje observo que muitos têm dificuldades de manifestar opiniões, parece lhes faltar vocabulário. Talvez seja por terem perdido o hábito de ler, dialogar ou escrever. Afinal, neste mundo de Ctrl C + Ctrl V, já não se sabe se se está conversando com um amigo ou com o formador da sua opinião. Acossados pela pressa, são poucos os que leem aquilo que recebem e, pelo comodismo, as faculdades mentais de pensar, observar, discernir e julgar estão sendo substituídas pela “facilidade de encaminhar”. 

Estudando Logosofia aprendi que, quando se tem dificuldades para mudar um ponto de vista, o melhor é mudar a vista de ponto.

Vendo o sol se mover na abóbada celeste, admitia-se que a Terra era o centro do universo. Era uma opinião, um ponto de vista. Estudando Logosofia aprendi que, quando se tem dificuldades para mudar um ponto de vista, o melhor é mudar a vista de ponto. Foi assim que passei a perceber na História alguns equívocos ainda mais absurdos do que esse, pois opiniões sobre fatos e coisas se formaram lendo a história escrita sob a ótica de vencedores ufanistas ou perdedores sentimentalistas. Para compreender a História sob a ótica d’Aquele que nos criou, há que mudar a vista de ponto, há que querer enxergar mais longe, como fez Galileu.  

Reveja a História humana. Qual revolução ou golpe de estado – como queira – resolveu o problema da liberdade de opinião, da liberdade de pensar? Qual revolução favoreceu a evolução humana?

Liberdade de pensar é o que tenho experimentado estudando Logosofia.

Liberdade de pensar é o que tenho experimentado estudando Logosofia. Comprovo a realidade de pensamentos de bem e de falsas verdades que, propagadas por poucos, navegam pelo mundo a bordo de ideologias e crenças que dominam a mente de seus adeptos. Esses já não pensam. Alguém pensa por eles. 

Mudei a vista de ponto! 

Em vez de navegar no mundo virtual, dedico-me a observar o mundo mental. Nele, encontro as causas do que ocorre no mundo dos homens. Povoado de verdades e mentiras, observo a origem da boa e da má conduta humana. Concluo que somente caminhando para dentro de si mesmo é que o homem recuperará sua liberdade. Esse caminho é o da evolução da sua consciência. Caminho que se constrói com as mãos do próprio entendimento e pelo qual se caminha com os pés da própria razão. Não há outro.

Em vez de navegar no mundo virtual, dedico-me a observar o mundo mental. Nele, encontro as causas do que ocorre no mundo dos homens.