Estava eu tranquilo, concentrado no meu estudo, procurando aprofundar minha pesquisa sobre o pensamento e sua autonomia, seu poder e sua força quando, de repente, sem mais nem menos, fui interrompido por minha razão indagando quão próximo estava da realidade que andava investigando. Dirigi, então, a atenção para o meu interno, a fim de verificar qual era a minha realidade, qual o motivo daquele estudo, por que surgira em mim o interesse em aprofundá-lo e como estava me sentindo quanto ao esforço e ao empenho dispensados a esse assunto.

Fiquei pensando por algum tempo no que ocorrera comigo naquele momento. Talvez tudo tenha ocorrido por eu estar atuando com os conceitos logosóficos já incorporados à minha vida, e porque são esses conceitos que me fazem viver na realidade. Percebi, então, que a familiarização com eles me faz atuar de acordo com a realidade que cada um contém, e que esta realidade estará presente toda vez que eu apresentar o resultado das minhas realizações.

Após essas reflexões, cheguei à conclusão de que, se há uma cobrança, o ideal é que seja feita por minha própria razão. Refletindo sobre essa cobrança, compreendo que a faculdade da razão começa a ordenar meus movimentos internos, fazendo-me distinguir qual é a minha responsabilidade e quais são os meus deveres como ser humano frente à realidade da minha existência.

Sou imensamente grato ao método logosófico pela forma com que abre minha visão para uma rota de prerrogativas que tenho ao meu dispor para facilitar a realização de meus objetivos. Essa visão mostrou que é a razão que deve julgar quais decisões me cabem tomar frente aos eventuais problemas que poderão ir surgindo aqui e ali, pois é ela, que, lá no nosso íntimo, deve presidir, juntamente com a consciência, todas as nossas ações.

Tenho também observado que, durante meus estudos, a sensibilidade com frequência atua nos momentos em que me deparo com empecilhos para absorver algum aspecto do ensinamento, o que pode ocupar muito do meu tempo.

Nesse caso, a atuação da sensibilidade me fez vislumbrar rapidamente um aspecto que a razão, por sua característica questionadora, despenderia muito mais tempo para chegar a uma compreensão.

Algo que tenho comprovado com frequência é a minha mudança de comportamento, quando sinto que o assunto está caminhando para uma discussão. O primeiro pensamento que me vem é o de impor a razão que nem sei se tenho, porque, como venho aprendendo com os ensinamentos logosóficos, a discussão tende a ocorrer devido à restrição do conhecimento em seus pormenores, conforme exigiria a própria razão que, apressadamente, quer logo formar um juízo.

No entanto, a discussão não acontece quando há conhecimento do que se fala, pois é o conhecimento que alimenta a razão.

Um dos recursos que tenho usado para, pelo menos, suavizar as discussões em geral é o de fortalecer minha razão com conhecimento extraído de vivências anteriores e preparar um exército de pensamentos adestrados e capacitados para emitir juízos sensatos e equânimes.

As discussões podem ocorrer em várias situações, e, para ilustrar, vou citar apenas três delas:

Muitas das minhas discussões aconteciam durante reuniões familiares sobre assuntos banais, mas que causavam grande polêmica e discussões sem fim.

Uma outra situação que me deixava vulnerável a uma discussão calorosa, com final imprevisto, ocorria no trânsito. Bastava o motorista atrás buzinar para que a fera dentro de mim rangesse os dentes.

Quem já viveu a experiência de uma reunião de condomínio sabe que o ambiente, muitas vezes, se transforma em uma praça de guerra. Chega um momento em que todos discordam de tudo, simplesmente pelo prazer de discordar.

Bem, é nesse mundo de pensamentos em movimento onde estou empenhado em usar da razão para melhor controlá-los. Eles dominam os ambientes e, se não nos prepararmos, agiremos impulsionados por eles e não pela nossa inteligência.

Assim é que tenho me preparado para, quando me for exigida uma compreensão nos ambientes que frequento e onde sei que, dependendo de minha atuação, poderei provocar uma discussão, mudar meus pensamentos para minha conduta mudar também.

Eis, pois, quão grande é a sabedoria plasmada na própria Criação. O ser humano é um conteúdo maravilhoso de possibilidades, e é à razão e à inteligência do homem que corresponde a alta missão de conhecer cada uma delas e lograr tal identificação. González Pecotche