Uma ação corriqueira que quase todos nós já vimos: ao entrarmos num shopping, basta apertarmos o botão na entrada do estacionamento e a máquina, automaticamente, fornece um ticket.
Passei a observar algumas situações em que eu atuava de forma semelhante: recebia um estímulo externo de alguma situação e, num impulso irrefletido, expressava o meu posicionamento. Passei a observar que, principalmente quando essas situações eram contrárias aos meus posicionamentos, surgia em mim um pensamento de arbitrariedade, de querer expressar o que sentia de maneira imediata, sem passar pelo crivo da razão. Como não separava um tempo, ainda que de segundos, para elaborar as palavras e serenar a mente e, consequentemente, a minha conduta, acabava colocando de modo incorreto a minha perspectiva. E isso, definitivamente, não gerava o efeito por mim esperado.
Comecei a observar que quando eu agia com impulsividade, as pessoas tendiam a reagir e a escutar menos o que eu estava efetivamente dizendo. Assim, apesar da minha boa intenção, minhas palavras não surtiam o efeito esperado e eu ainda ficava com a imagem prejudicada.
No ambiente de trabalho, por exemplo, diante de um desafio que surgia para a equipe, quando um colega expressava alguma tentativa de solução que me parecesse descabida, eu criticava seu posicionamento, defendendo com veemência o que eu achava ser mais proveitoso para solucionar o problema. Nesses momentos, o que eu conseguia era provocar mais reações, deixando o ambiente mais conturbado e desarmonioso.
Assim, nesses episódios, a minha postura destoava do que eu realmente queria: ser uma pessoa conciliadora, que consegue lidar com as adversidades de forma serena, escutando e buscando com a equipe a melhor solução. Percebi que eu mesma era a pessoa mais prejudicada pela minha conduta.
Em contrapartida, comecei a fazer o exercício inverso: buscar levar o que eu pensava sobre o assunto de maneira serena, sem aspereza nas palavras e sem criticar o posicionamento do outro. Observei que, nessas situações, as pessoas escutavam-me com mais atenção e, mesmo que não concordassem com o que eu dissesse, mostravam-se mais abertas a dialogar sobre o assunto e a escutar minhas colocações. Desse jeito, os momentos de convivência tornavam-se mais prazerosos e, muitas vezes, eu conseguia assegurar que as intenções por trás da minha manifestação fossem bem-sucedidas. Todo esse movimento só foi possível a partir da observação das minhas atuações e do desejo consciente de mudança.
Ao ler um ensinamento de González Pecotche, autor da Logosofia, meu entendimento sobre o que eu vivia sobre esse ponto da minha vida ampliou-se:
O homem reflexivo raramente se deixa levar por seus pensamentos, e até nos momentos mais críticos costuma amparar-se na serenidade para não atuar sob nenhum impulso.
(Do livro O Mecanismo da Vida Consciente)
Logo, passei a reforçar em mim o propósito de agir de forma refletida nas minhas atuações, pensando sobre o meu posicionamento, sobre as palavras mais adequadas para utilizar, com equilíbrio e serenidade na minha conduta. Para isso preciso ter o controle dos pensamentos que atuam na minha mente no momento que tenho um estímulo externo, buscando refletir sobre eles e decidir a maneira que quero agir. Quando tenho consciência do pensamento prejudicial que surge, consigo freá-lo. Dessa forma, consigo que a minha intenção na manifestação não se deturpe – pelas minhas reações e palavras – na comunicação com as pessoas na minha convivência.