A busca pela felicidade é o combustível que move a humanidade há séculos. É ela que nos move a estudar, trabalhar, fazer amigos, casar, ter filhos, juntar e gastar dinheiro. Mas por que, mesmo fazendo tudo isso, eu ainda não sou feliz? Por que ainda fico triste às vezes?
As lutas que vem de dentro
Há pouco tempo, uma amiga muito querida e presente em meu dia-a-dia enfrentou uma doença séria que, por ter sido identificada cedo e tratada por bons profissionais, já foi resolvida. No entanto, desde essa experiência, comecei a ficar com muito medo de que alguém da minha família, e até eu mesma, ficasse doente. Esse pensamento entrava em minha mente a qualquer momento e, quando eu percebia, já estava triste, imaginando uma série de problemas, ao invés de aproveitar os bons momentos com a família e com os amigos.
Mas esse não era o único pensamento que me impedia de ser feliz. Ele apenas fez com que eu me atentasse para o que estava ocorrendo em meu interno. Estava me abalando por motivos ainda menores, comuns à fase da juventude, como o medo das provas e trabalhos da faculdade, o desejo de um corpo perfeito, a preocupação com o futuro econômico e profissional, e pequenas situações difíceis do viver diário.
Constatei, então, que esses problemas não eram reais. Em primeiro lugar eu não estava vivenciando nenhuma doença e, se um dia tivesse que enfrentar esse tipo de dificuldade, teria de fazer isso com luta e alegria. Em segundo lugar, apesar de a faculdade ser intensa e me exigir muitos esforços, eu estava estudando o que sempre havia desejado e tendo um excelente desempenho.
Com relação ao meu corpo, vinha aprendendo a cuidar dele, amá-lo e, principalmente, a identificar e construir a beleza dentro de mim. Por fim, quanto ao futuro, sabia que deveria planejá-lo e me capacitar para poder desfrutá-lo, contudo isso não deveria ser motivo de preocupação e sim de ação, de esforço. Mas se eu não tinha problemas, por que estava tão triste ultimamente? O que tanto me incomodava?
Investiguei dentro de mim e… bingo! Só podiam ser os meus pensamentos! Mas como meus? Eu não queria tanto ser feliz? Como, então, eu mesma podia me deixar triste?
Tenho aprendido com a ciência logosófica que os pensamentos são entidades autônomas, que vivem e se reproduzem na mente humana, que nesse caso, era a minha mente. Sendo assim, apesar de os pensamentos que me habitam não serem eu, quando não estou atenta, eles governam minha vida, levando-me a pensar e fazer coisas que não quero da mesma forma que, quando sei quais são os meus objetivos e estou atenta ao que ocorre dentro de mim, tenho a possibilidade de criar e cultivar pensamentos de bem, que culminam em realizações felizes.
Identificado o problema e revisado o conceito, criei meu propósito: tornar a minha felicidade consciente, para não me abalar mais com pequenezas. E, para sustentar esse propósito, busquei observar e recordar os motivos que tinha para ser feliz, elencando então:
- a gratidão à vida e à Criação;
- gratidão à minha família, à educação e ao amor que recebi deles;
- gratidão à oportunidade de estudar, o que sempre quis fazer em uma universidade excelente, além de viver a experiência de morar sozinha, etc.
Assim, quando eu estivesse vivendo uma situação difícil, poderia buscar nesses motivos de alegria para mim a energia necessária para criar pensamentos construtivos e resolvê-la, trocando a preocupação, o medo e a tristeza, por valentia, esforço e ânimo.
Experimentando o propósito
Tais movimentos internos ocorreram em um domingo, e a tal “situação problema” não demorou a chegar. Já na segunda-feira seguinte, após ter acordado muito disposta e determinada a viver a semana com felicidade, bateram atrás do carro de minha carona na viagem de volta para a casa.
Após ver que estava tudo bem, os pensamentos logo começaram:
- “Bem hoje que eu estava feliz!”;
- “Agora vou atrasar tudo o que tinha pra fazer!”;
- “Devia ter voltado ontem!”.
Porém, rapidamente retomei as rédeas de minha mente e me recordei do meu propósito e dos pensamentos que havia criado para protegê-los. Também pensei como poderia aproveitar bem o tempo enquanto esperava os procedimentos da seguradora e resolvi adiantar a leitura de um texto que eu tinha disponível em meu celular.
A situação foi resolvida, cheguei a tempo no trabalho e, no final do dia, quando cheguei a casa, procurei ser mais ágil na realização das minhas atividades, conseguindo dar conta de tudo, como sempre, mas dessa vez, muito mais feliz. Feliz por causa de todos os motivos anteriormente elencados e, principalmente, por ter conseguido me superar, obedecendo ao meu verdadeiro querer: ser feliz!
A vida consciente se constitui em um lindo campo experimental e em convite permanente à superação e ao enobrecimento da vida! Quantos lindos momentos tenho vivido ao compreender e praticar o ensinamento:
“[…] Ainda necessitará de valor para desfrutar da própria felicidade, se não quiser que ela se desvaneça por um momento de debilidade ou pelo simples temor de perdê-la. O valor é uma força extremamente estimulante, porque amplia o campo mental e dá solidez ao pensar e ao atuar. O temor, ao contrário, é deprimente; aflige, tortura, amargura, entristece.” (Bases para sua conduta, Carlos Bernardo González Pecotche).