Recordo-me bem de ter passado parte da adolescência escutando dos mais velhos que para ser alguém na vida eu deveria buscar uma profissão que me possibilitasse alcançar uma boa posição financeira. Desde então, passei a carregar em meu interno uma grande preocupação sobre o futuro, já que, no fim das contas, quem é que não quer ser alguém?
Eu, naturalmente, queria muito ser alguém. Mas, apesar de todo esse querer, uma pergunta seguia palpitando em minha mente: quem é exatamente esse alguém que eu quero tanto ser? Para mim, isso ainda não estava claro.
Anos depois, já formado em Direito e advogado, tive a oportunidade de trabalhar em um escritório que é referência em minha área de atuação. O salário era bom e as perspectivas de forjar uma carreira eram razoavelmente interessantes. Durante algum tempo, fui capaz de extrair valiosos aprendizados das vivências que aquele ambiente me propiciava.
O lado ruim da história era que o trabalho em si me demandava, com frequência, tempo demais – comecei a notar que levar afazeres do escritório para casa estava se tornando algo comum –, e isso começou a me gerar um certo incômodo.
Certo dia, decidi projetar em minha mente como seria minha vida no futuro caso eu seguisse trabalhando ali ou, até mesmo, em algum outro escritório ou empresa com estrutura semelhante. O cenário, como é possível imaginar, não foi muito animador: me vi cada vez mais assoberbado com demandas, sem controle sobre minha vida, infeliz.
Ao iniciar meus estudos em Logosofia, logo aprendi que o campo profissional era apenas uma das tantas partes de minha vida – uma parte importantíssima, não se pode negar –, e que eu deveria me esforçar para que ela, junto com todas as outras, como a familiar, a social e, principalmente, a espiritual, pudessem estar sempre em equilíbrio.
Se por um lado eu já havia compreendido que continuar trabalhando onde estava não me permitiria conquistar o equilíbrio em minha vida, ser dono de mim mesmo e ser feliz, por outro, me causava temor o pensamento de que, caso deixasse aquele posto de trabalho, eu poderia, no futuro, não conseguir ser alguém. Mas, em realidade, o que me faltava mesmo era um conceito sobre o que significava, de fato, ser alguém.
Após muito estudar e refletir, entendi que para ser alguém não bastava apenas ser mais no sentido material – o que satisfaz apenas a vaidade pessoal, mas não a consciência –, é necessário primeiro saber quem se é e depois buscar, com consciência, se tornar alguém melhor, realizando assim um processo de superação que abarque todos os aspectos da vida.
Foi então que, munido desses elementos e depois de muito planejar, finalmente tomei a decisão de me desligar do escritório em que trabalhava para abrir o meu próprio negócio. Hoje, com a vida um pouco mais equilibrada, vejo que tenho conseguido, aos poucos, me tornar um ser melhor do que aquele que fui ontem – e o mais importante: não só no trabalho!