Mais de uma vez, durante a semana, minha mãe se esforçava em me ensinar um versinho para ser dito no domingo, no final do almoço da família, possivelmente numa comemoração de alguma data. Eu tinha aproximadamente oito anos. De pé, num tamborete, isto é, num banquinho de madeira, minha mãe segurava minha mão e sorrindo me incentivava a falar. Olhei a plateia e comecei a recitar, bonitinho. Ouvi no fundo da sala uma voz que dizia: “Nossa, como ela tem uma voz grossa!”.

Chorei muito naquele dia. Com raiva, prometi a mim mesma não falar mais. Sem dúvida, a crítica exacerbou o pensamento de inibição que já havia dentro da mente infantil. Tornei-me uma menina calada, de poucas falas. Mas algo aconteceu que mudou em definitivo o rumo da minha vida. Saímos de Juazeiro do Norte-CE para viver no Rio de Janeiro. Nova escola, novos e poucos amigos. E o velho drama continuava: falar pouco ou quase nada, por causa da voz grossa e, agora, um novo agravante, o sotaque nordestino, motivo de risos dos coleguinhas cariocas.

Muitas vezes, por falta de uma docência atenta e afetuosa, as crianças costumam ser cruéis com as outras. Por isso, buscava nos livros o refúgio, os momentos de alegria de conhecer novos mundos, em vez de cultivar amizades.

Na adolescência, seguia com a vergonha de me manifestar em público. Algumas vezes era grosseira com os demais e, por trás da agressividade, escondia-se minha vergonha de falar.

Na juventude, passei para a faculdade e quase fui reprovada numa das disciplinas por não saber me manifestar em público para apresentar um simples trabalho de pesquisa que eu havia feito de forma exemplar.

Nesse estado psicológico, cheguei às portas da escola de superação humana, a Fundação Logosófica. Logo percebi que ali seria a grande oportunidade de me livrar do complexo de feiura na voz, do isolamento social por causa da inibição e, principalmente, porque havia lá o que mais gostava: livros e pessoas que sabiam ouvir com respeito e atenção.

Tão logo se inicia na leitura dos livros logosóficos, percebe-se que não se trata de um emaranhado de palavras ou frases de efeito ou de especulações retiradas da imaginação tecida nos meandros da engenhosidade intelectual. Trata-se de um manancial de conhecimentos transcendentes que, como os rios, vão se esgueirando para dentro do nosso âmago até chegar nas profundezas da alma e, ali, promovem a alquimia da mudança: deixar de ser o que se é para ser o que se quer ser. E eu queria mudar, queria ser comunicativa, alegre, ajudar os demais com a força do meu pensamento, manifestar-me livremente e fazer-me ouvir sem críticas.

O processo de evolução consciente é o processo de superação individual. É como um renascimento interno, quando emerge um novo ser. Para isto se disponibilizam as diversas atividades pedagógicas que a Fundação Logosófica mantém para os que queiram superar suas modalidades, seus estados internos, mediante a identificação, seleção e substituição de pensamentos.

Uma das atividades que mais gosto é a de núcleos de estudos. Nesta atividade posso comprovar o ensinamento logosófico que ensina: o bem-pensar é o que permite a alguém se expressar bem. E, assim, comecei a me expressar, num ambiente de afeto e de respeito e, aos poucos, fui adquirindo confiança em mim mesma, mediante a construção prévia dos pensamentos que queria manifestar. Pude, assim, experimentar a alegria de realizar palestras públicas e me apresentar em rádio e televisão com a segurança que o conhecimento logosófico oferece a quem necessita e quer se superar.