Como poderia esquecer aquele episódio tão expressivo de minha vida quando exercia a função de “Coordenadora Pedagógica”, alguns bons anos atrás! Um grupo de cinco professoras perguntou-me:

– Maria Helena, você tem que contar para nós: qual é o segredo?

– Como? Segredo? – respondi. Não estou entendendo. Não tenho nenhum segredo! – sorri achando aquela pergunta muito engraçada.

E elas, então, explicaram:

– Alguma coisa você fez! Você está aprendendo a falar! Você não sabia falar! Conte para nós como foi que isso aconteceu.

Olhei perplexa para aquele conjunto. Dei-me conta de que se tratava de algumas professoras, colegas de trabalho, que apresentavam o mesmo traço psicológico que até então era minha “marca registrada”: timidez, insegurança, falta de confiança, medo de falar, palavras mal pronunciadas, algumas vezes até inacabadas. Sim, aquele conjunto também apresentava esse perfil psicológico!

Mais perplexa ainda fiquei quando constatei que, meses atrás, eu mesma vivia muitas situações “vexatórias”, poderia assim dizer! Dirigir a palavra às docentes nas reuniões pedagógicas era um verdadeiro martírio! Muitas vezes me perguntei por que aceitei aquela função que iria me expor tanto diante do grupo!

Percorrendo velozmente os tempos passados, recordei, de imediato, quanto a timidez foi minha companheira na infância, reprimindo-me o desejo saudável de participar das inocentes brincadeiras infantis! Recordei-me da adolescente que fui e quanto essa vil companheira psicológica deteve meu impulso de convívio social, restringindo meu campo de oportunidades!

Sim, situando-me diante do ser que fui e do ser que estava agora sendo indagado pelas minhas colegas de trabalho, de fato era de se esperar aquela intrigante pergunta!

Expliquei, então, que o grande “segredo” a que elas aludiam consistia no estudo da ciência chamada Logosofia. Que essa ciência me levava a constatar que as causas do comportamento humano se encontram no interno de cada um e que somente este poderia modificá-las!

Logo no início dos estudos, foi exatamente isso que busquei fazer: investigar o que me dificultava o uso da palavra! E foi aí que me deparei com o “segredo” a que elas se referiam: para “falar” tinha que “calar” a timidez! Isso mesmo, tinha que deter a ação dessa deficiência psicológica!

Ao encaminhar meus primeiros esforços no uso e domínio da palavra, busquei na bibliografia logosófica o livro intitulado “Deficiências e Propensões do Ser Humano”. Ao abrir esse maravilhoso livro, corri as páginas ligeiramente e me detive no título “Timidez”. Com grande surpresa, vi-me “retratada” naquelas páginas! O autor, González Pecotche (1901-1963), parecia conhecer-me profundamente!

Tomei, então, um dos trechos desse livro como “guia” de minha vida dali em diante:

A timidez é má companheira, e quanto antes o ser puder se livrar dela, tanto mais à vontade se sentirá entre seus semelhantes e mais vantagens obterá de sua nova forma de ser. Aquele que em verdade quiser escapar de seu domínio fará da resolução seu ponto forte e, tantas vezes quantas forem necessárias, repetirá mentalmente para si mesmo que deve ser valente, que nada deve temer, procurando, é claro, manter-se em concordância com o que pensa. Recorde-se que é necessário favorecer a própria resolução, se se quer sentir o influxo da coragem e agir de forma consequente.

Daquela pergunta “Qual o segredo?”, que tantos outros momentos gerou entre mim e o conjunto de professoras, adverti-me que era preciso estender a outras pessoas o grande bem que a Logosofia tem me levado a viver! Que isso deveria deixar de ser um segredo para a humanidade!

Assim, aquele que quiser revelar para si esse “segredo” aceite o meu convite: estude Logosofia e supere a timidez, esse traço negativo que tanto inferioriza aquele que o possui! Mais ainda: encontre o verdadeiro significado da vida humana ao modelar o próprio ser, realizando a sublime tarefa da evolução consciente!