Não sou santo, errar é humano…
Quem já não ouviu isso várias vezes por aí? O erro sendo justificado tão-somente pela sua natureza de imperfeição, e estamos conversados! A vida, nesse caso, é tida como aquela que a todos vai levando, num arrastão gigantesco e inevitável.
Foi isso que pensei ao ouvir um familiar lamentar que eu era realmente desordeira: desde pequena, vivia perdendo coisas, e não haveria solução para isso.
Essa concepção, quase que absorvida automaticamente por muitos, pode refletir um ser humano sem vontade, sem recursos próprios e sem propósitos. O problema é que se deixar arrastar por um padrão assim, do tipo nascer-crescer-trabalhar-morrer, deixa uma sensação de vazio e um desconforto que pode beirar à infelicidade. Alguém que não se conhece verdadeiramente e que se sente impotente para ser diferente.
Quem inicia os estudos de Logosofia tão cedo toma contato com uma máxima: quem quiser chegar a ser o que não é, deverá principiar por não ser o que é. À primeira vista parece um nebuloso jogo de palavras. Porém, a simplicidade dessa verdade vem suavemente à tona quando refletimos e constatamos que, sim, não se pode ser algo diferente permanecendo na forma anterior.
Se, por distintos motivos, almejamos sermos pessoas melhores, havemos de reconhecer que o que nos pesa na caminhada é o fardo de nossos defeitos, as deficiências psicológicas. Sim! O que nos faz sofrer e causa sofrimento aos demais são esses pensamentos enquistados na mente, qual parasitas, que nos sugam e anulam qualquer propósito de mudança.
Ignorar as próprias deficiências durante o curso da vida pode equivaler a ficar rodando em círculos ou patinar no gelo sem conseguir sair do lugar. Em que pese todos os esforços que se possa empreender, nenhuma mudança pode ser real se não se abandona o inservível.
Os desafios de fazer diferente
O autor da Logosofia apresenta as deficiências como a parte essencial do trabalho de aperfeiçoamento integral que todo ser humano deveria fazer. O chamado processo de evolução consciente deve ser iniciado com o conhecimento de si mesmo. E conhecer-se a si mesmo significa não somente saber de suas virtudes, mas também daquilo que temos como imperfeições. Como ensina Pecotche, melhor conhecermos os inimigos que temos dentro e combatê-los do que simplesmente os ignorar.
Ocorre que reconhecer em si mesmo quais deficiências crescem e se alastram no nosso mundo interno não é tarefa fácil. Primeiramente, porque não somos ensinados a observar o que acontece e o que está em nosso mundo interno. Depois, entre tantos outros aspectos, porque o ser humano é inclinado a buscar sempre o mais cômodo, sem se importar com — ou sem condições de discernir — os riscos daquilo que é sedutor e ilusório. É uma tendência que pode comprometer seriamente a decisão de se autoconhecer e autoaperfeiçoar.
Enfrentar a realidade de nossa própria existência equivale a encontrar o rumo de condução da própria vida. Experimentar a sensação de identificar uma deficiência, e depois aprender como a debilitar, é o melhor test drive que se pode fazer do que se colhe desse trabalho interno. Algo que, antes de experimentar, sequer concebemos como possível.
A Logosofia nos faz o convite: “Por que não converter em tema favorito aquilo que haverá de propiciar benefícios e satisfações mais valiosos, ou seja, dedicar-se à tarefa de estudar cada deficiência em si mesmo e provar, perante a própria consciência, que é capaz de superá-las?”