Certa vez recebi a indicação de um médico para me consultar com um neurologista. Na consulta levei os exames que tinha acumulado até então, pensando que poderiam ser úteis. Durante o atendimento, o médico foi revendo os exames e comentando os resultados de cada um. Neste ponto fui surpreendido por um impasse conceitual: o diagnóstico final seria sobre a minha mente ou sobre o meu cérebro?

Quando chegou a vez dos exames de imagem, o médico foi passando lentamente as páginas enquanto as observava sob diferentes ângulos. Quanto mais demorava na observação de cada imagem, mais a minha ansiedade aumentava. “Se está demorando é porque encontrou algum problema!”, pensei. Ou melhor, imaginei!

A certa altura, mostrando admiração, o médico exclamou:

– Seus exames de imagem do cérebro estão ótimos!

– É mesmo? – perguntei, já um pouco mais aliviado da ansiedade.

– Sim, estão excelentes, não vejo nenhuma anormalidade…

– É bom saber disso, não é? – completei.

Ele, então, acrescentou:

– Raramente vejo um exame de imagem cerebral tão bom como o seu!

Afinal, mente e cérebro são a mesma coisa?

Diante daquele elogio clínico em relação aos meus exames e colocando os exageros à parte, eu disse ao médico: “É uma pena que eu não possa dizer a mesma coisa sobre a minha mente!…”

Ele achou interessante meu comentário, ao qual acrescentei: “É isso mesmo; na maior parte do tempo, minha mente está desorganizada, repleta de pensamentos com pouco ou nenhum valor, e quase sempre, entregue a um estado de inércia altamente nocivo para a saúde”.

Depois desse breve diálogo, perguntei ao médico: “Doutor, mente e cérebro são a mesma coisa?” “Não”, ele respondeu, “mas trabalham com elementos similares para cumprir suas funções.”

Saindo do consultório, continuei minhas reflexões. Ter um cérebro em boas condições do ponto de vista clínico não significa, necessariamente, ter uma mente boa e organizada. Uma mente organizada significa ter as faculdades de pensar, de observar, de raciocinar, de entender, etc. em pleno funcionamento e sendo usadas para cumprir importantes finalidades ao longo da vida.

Neste ponto das minhas reflexões, lembrei-me de ter lido certa vez que o cérebro do famoso gênio da Física, Albert Einstein, fora doado para fins de pesquisa científica após sua morte.

O que os cientistas tinham em mente era investigar se existia alguma configuração física ou biológica no cérebro do grande gênio, que o diferenciasse do cérebro de um cidadão comum, de cultura e instrução medianas. Nenhuma diferença significativa foi detectada! Foi uma decepção total para os que acreditavam que o ser humano é apenas matéria.

O que tenho aprendido com os estudos de Logosofia é que o cérebro é a base física da mente; esta, por sua vez, é imaterial. O pensamento também é imaterial, intangível pelos sentidos físicos, mas pode ser visto com os olhos do entendimento e tocado pelas mãos da inteligência.

Por exemplo: onde estava esta frase que acabo de escrever? Estava na minha mente sob a forma de um pensamento. Ou seja, a mente gera causas – por exemplo, pensamentos – que antecedem os efeitos (ações, palavras, atitudes, etc.).

Ao ler o que está escrito aqui, você está recebendo o pensamento que estava tão-só na minha mente. Agora está na sua mente também, caro(a) leitor(a). Este exemplo ilustra como a mente pode gerar um pensamento e executar sua materialização posterior – neste caso sob a forma escrita.

A imparcialidade e o autoconhecimento

Entretanto, no campo do autoconhecimento, há uma dificuldade a ser vencida: como estudar a própria mente usando ela mesma como instrumento de investigação?

Tudo o que se refere à mente, suas funções e os pensamentos que ali atuam, é um mundo de maravilhas. É comum se ouvir dizer que não usamos nem dez por cento da nossa capacidade mental. Entretanto, esta é uma afirmação falaciosa, pois, se não sabemos qual é a capacidade total da mente, ou seja, quanto é os “cem por cento”, como poderíamos afirmar que só usamos dez por cento? Dez por cento de quanto?

Outra questão importante é: o que significa ser dono da própria mente? Que tipo de organização interna – ou seja, organização dos próprios pensamentos e funções da inteligência – precisamos alcançar para que a mente e os pensamentos atuem a favor do autoconhecimento? Se o exercício físico conserva e fortalece os músculos do corpo, quais seriam os exercícios da mente para fortalecer os “músculos” mentais?

Se o cérebro de um gênio como Albert Einstein é praticamente igual ao cérebro de um indivíduo de pouca cultura e instrução, onde está, então, a genialidade do gênio?

A pergunta parece simples, mas desperta outras não menos importantes: o que ganho ao obter uma resposta satisfatória sobre onde está minha genialidade? Nos meus estudos de Logosofia tenho encontrado uma clara orientação para conhecer os recursos da inteligência e ampliar minhas possibilidades de realização no campo do conhecimento humano. Portanto, não se trata apenas de ficar satisfeito em saber onde está minha genialidade, mas de usar os próprios recursos na busca do autoconhecimento.

Na ampla bibliografia de González Pecotche, criador da Logosofia, tenho encontrado a resposta às questões mencionadas, especialmente no conteúdo do livro Logosofia – Ciência e Método, do qual extraio o seguinte trecho:

O domínio do campo mental próprio permite que o ser transcenda sua limitação e desenvolva sua vida em planos de consciência mais elevados. Nisso se baseia o segredo da realização humana.