Quando se desconhece o valor das palavras, elas são usadas sem controle algum.
(Coleção da Revista Logosofia. Tomo 3, p. 222)
Outro dia eu recordava do meu avô, um homem simples e de poucas palavras. Meus sentimentos voaram ao seu lado e se encontraram com seus versos rimados, seu caminhar silencioso e seu olhar sereno e pensativo…
Recordei que no seu tempo, e nem faz tanto tempo assim, os homens virtuosos comercializavam alguns de seus bens dando como garantia suas palavras. Conta minha mãe que um dia ele deixou de vender uma extensão de terra porque o comprador exigiu dele um “papel assinado” como garantia. Ele ficou tão ofendido que se negou a vendê-las àquele homem que não confiara na palavra que ele estava oferecendo como garantia.
Quanto valor tinha sua palavra!
Refletindo sobre isso, muitas perguntas surgiram em minha mente: como ele sabia medir sua palavra? Que critérios usava para medi-las? Quem lhe havia ensinado?
E continuei pensando… indo ao encontro de respostas confiáveis.
Encontrei um eco sincero nas palavras do pensador e humanista Carlos Bernardo González Pecotche, que me diz que:
(…) A palavra foi dada ao homem para que ele se entendesse com seus semelhantes, mas que ela é também o agente da própria vida, que o representa e faz com que exista na mente deles.
Li, reli e tornei a reler para poder penetrar nos segredos dessas palavras. Quem sabe não encontraria ali o critério para medir minhas palavras e poder elevá-las a mesma altura das de meu avô?
E segui meditando… mergulhando agora nas palavras desse grande pensador…
De fato, eu me faço entender com meus semelhantes pela voz, gestos, olhares. E é certo também que minhas palavras podem levar tanto flores como pedras. Mas, o que seria ser “agente da própria vida” que vai estar me representando e fazendo com que eu exista na mente dos meus semelhantes?
Ser agente significa “ser encarregado de executar uma ação”. Logo, minhas palavras têm a função de executar ações em minha própria vida! Mas, de que maneira a palavra faria isso? O que existe então por trás dela?
Diz-nos o citado pensador que a palavra é a condutora do pensamento individual e que ela contribui muito para a formação do meu próprio conceito. Agora a imagem começa a ficar mais clara, porque as flores ou as pedras viriam a ser esse pensamento individual, que é o seu conteúdo, justamente o que está por trás do som que emito. Mas fiquei pensando: se as palavras levam em si uma ação a ser executada, significa que nessa ação está implícita uma intenção, ou de fazer o bem – flores, ou de fazer o mal – pedras.
Parece-me que entre o som das flores ou o bater das pedras eu vou penetrando na mente dos semelhantes e eles vão me conhecendo através delas. Aí estaria então, a contribuição das palavras para a formação do meu conceito, ou seja, uma parte do meu conceito, daquilo que sou, que penso, é levado nas asas de minhas palavras.
Isso me leva ao encontro de outro pensamento do autor quando diz que “as palavras levam em si fragmentos da própria existência”, e diz também que a palavra deve ser o fiel expoente da dignidade que cada um tenha alcançado e deve ser cuidada como algo próprio, pois constitui um capital interno; um capital grandioso que tem sido dilapidado inconscientemente.
E aqui, eu me encontrei novamente com meu avô… que levava dentro de si, no seu interno, essa divina lição, e não permitia que nenhum pensamento estranho ao seu sentir, dilapidasse seu grandioso capital interno – sua palavra!