O autor da Logosofia, Carlos Bernardo González Pecotche, aponta-nos uma direção fundamental para a educação. Para além da formação técnica e acadêmica, há uma formação interna valiosíssima: a que permite aos seres a descoberta de um incrível campo de investigação, isto é, nosso mundo interno. Pude constatar, nesses últimos 13 anos como docente no Colégio Logosófico – Unidade Rio de Janeiro, que a Pedagogia Logosófica é uma ciência que permite, por meio da sensibilidade, da auto-observação e da experimentação, que professores e estudantes aprendam juntos, com entusiasmo, sempre rumo à superação.  

 

“Educar para a vida é considerar, como um de seus fins primordiais, o aperfeiçoamento de tudo quanto esteja compreendido na existência do ser humano, promovendo a eliminação das deficiências pela correção consciente dos erros, e despertando nos seres o afã de superação por força da natural aspiração de servir à humanidade em posições que permitam um maior e melhor aproveitamento das energias internas, dedicadas a obras de bem e de profundo sentido humano e espiritual.” (González Pecotche).

Com base nesse ensinamento da Pedagogia Logosófica, desenvolvo, já há alguns anos, uma prática avaliativa que visa a superação dos seres envolvidos no processo de ensino-aprendizagem do Colégio Logosófico: a autoavaliação como via de “mão dupla”. 

 

Isso porque, entendendo que a educação é uma arte e que na sala de aula ocorrem, constantemente, processos de elaboração e aperfeiçoamento de conhecimentos, constatei, através da Pedagogia Logosófica, que nós, seres humanos, também na função de educadores, fazemos parte desse processo de elaboração e aperfeiçoamento. Enquanto ensinamos, aprendemos sobre nossa realidade interna, colocando-nos no papel de quem observa, estuda, experimenta e pode buscar caminhos para aperfeiçoar suas virtudes e corrigir suas deficiências.  

 

O objetivo central de um processo avaliativo não é encontrar erros e acertos de forma quantitativa, promovendo competição. Em vez disso, o conhecimento escolar deve ser construído para a vida. É fundamental investir em uma observação atenta para que cada indivíduo possa se perceber, abandonando o temor das avaliações e buscando caminhos para a evolução. 

 

Acreditando nesse aperfeiçoamento em via de “mão dupla” e movida pela vontade de romper com um processo unilateral de construção de conhecimentos para repensar a avaliação escolar, encontrei a estratégia da autoavaliação como instrumento para a verificação do processo de aprendizagem nas minhas turmas no Colégio Logosófico. Se o medo tolhe a vida e paralisa, a identificação do erro, pela autoavaliação do estudante dos anos finais do Ensino Fundamental, precisa atingir outro significado. 

 

Quando identifica onde errou, a pessoa pode traçar, com o auxílio da mediação docente, estratégias para alcançar acertos futuros. O erro deixa assim de ser lugar de punição, ameaça e vergonha, transformando-se numa fonte de oportunidade para acertos e caminho para a superação. Além disso, ao se autoavaliar, ela pode auto-observar-se, reconhecendo seus próprios pensamentos e sentimentos durante um processo avaliativo.  

 

A autoavaliação, assim, ancora-se nos princípios logosóficos, já que envolve a oportunidade de estudar conceitualmente o que significa uma autoavaliação e de experimentar, na prática, um processo autoavaliativo. É possível construir então novas maneiras de evoluir a partir do fortalecimento do conhecimento interno, destacando virtudes e corrigindo deficiências, com acertos e caminhos para progredir.  

 

Esse método conceito-experimentação-ação, firmado no compromisso do aperfeiçoamento de aptidões desenvolvidas na área de linguagens, não se encerrou na experiência dos estudantes. Assim como os jovens, por vezes, esperam da avaliação o imediatismo de uma nota considerada “boa”, também me observo, muitas vezes nos meus processos de vida, ansiosa por resultados imediatos. Fato é que o investimento na paciência, ao construirmos juntos o processo avaliativo, ensina-nos que nossas conquistas não são imediatas e que os erros nem sempre são descartáveis. Pelo contrário, constatar nossas dificuldades aciona nosso aperfeiçoamento.  

 

Investir na evolução, estudando nossos pensamentos e sentimentos diante das dificuldades, é o que favorece o aprimoramento dos seres, tornando o ato de estudar muito mais profundo do que apenas dominar conteúdos. O que aprendemos quando acertamos? O que aprendemos quando erramos? Como nos vemos diante das facilidades? Como nos enxergamos diante das dificuldades? Que compromissos podemos estabelecer rumo à superação? Essas e outras perguntas foram fundamentais no nosso processo de autoavaliação. Utilizamos inicialmente um questionário com perguntas objetivas e discursivas e retomamos em seguida esses pontos nas atividades reflexivas em sala de aula. 

 

Nesse sentido, no início do ano letivo, planejei produções textuais diagnósticas para as minhas turmas. A atividade visava traçar estratégias individuais e coletivas para alcançar objetivos relacionados a uma escrita bem organizada, criativa e com bom domínio de recursos linguístico-textuais. Depois de ler e comentar, com sinalizações por escrito, dialogando com cada estudante, devolvi os textos escritos por eles. Fiz então uma primeira partilha coletiva, ressaltando os aspectos bem-sucedidos da turma. Estimulei em seguida que cada um observasse os apontamentos que indicavam o que precisavam melhorar.  

 

A atividade consistiu na elaboração de perguntas que ajudaram a identificar os objetivos para o próximo conto a ser produzido. Além da autorreflexão acerca do próprio processo de desenvolvimento da escrita, os estudantes traçaram para si algumas metas que desejavam alcançar nas próximas narrativas. Essa proposição de objetivos individuais foi mediada por mim, sempre respeitando os desejos e as necessidades de cada um.  

 

Nesse momento, cabe destacar que a autoavaliação proposta era dialogada e intermediada, e não uma atividade mecânica de preenchimento de uma ficha de exercícios. Cada posicionamento dos alunos trazia uma oportunidade para exercitar a minha condução docente generosa e amorosa, em que eu enfatizava os pontos positivos de cada produção escrita, ao mesmo tempo em que as sinalizações do que precisava ser reelaborado na reescritura fossem percebidas como oportunidade de superação, não como erro a ser punido.  

 

Cabe, ainda, ressaltar que, como eu ocupava também o lugar de estudante, cursando as matérias do doutorado na universidade, conversei com a turma sobre meu processo de escrita, de estudo e sobre minhas motivações para a superação. Esse movimento de partilha aproximou os estudantes de mim, como seres-aprendentes, o que tornou a atividade ainda mais sensível e comprometida com a aprendizagem significativa. 

 

Em vários relatos, foi possível identificar que cada jovem estudante evidencia o desejo de ser melhor. Portanto, assim como os personagens de uma narrativa literária ou ficcional enfrentam conflitos que os impulsionam ao auge, ao clímax de suas histórias, nós, seres humanos, dotados da capacidade de desejar a superação a cada dia, podemos encontrar na autopercepção de nossas facilidades e dificuldades uma mola propulsora para um agir mais comprometido com a busca pela evolução em nosso mundo interno. Isso porque o conhecimento de si mesmo abrange a compreeensão da fase evolutiva em que cada indivíduo encontra-se. 

 

Depois da autoavaliação, as turmas reescreveram seus textos, num exercício constante de reconhecimento das potencialidades e dos necessários ajustes. Demonstraram felicidade com o texto final reescrito, mostrando entusiasmo na percepção de suas conquistas. 

 

Como a luta é a lei da vida, todos – professores e estudantes – podem observar-se e almejar a superação no processo de aprendizagem, ativando na consciência a busca pela evolução. Na Pedagogia Logosófica, entende-se que o ser humano passa por um processo de evolução consciente e, assim, “o ser efetua por si mesmo as constatações de seu melhoramento, precisando com inteiro discernimento as vantagens comprovadas.” (González Pecotche)