Costumava fazer ginástica numa sala grande e me posicionava no fundo, acreditando que era por modéstia. A insistência da professora para que eu fosse ficar perto do espelho era recebida com um sorriso e uma desculpa. Não sou assim um exemplo de atleta, dizia meu pensamento de falsa humildade.
Ao longo da aula, eu observava quem fazia os exercícios perto de mim e, lá no íntimo, achava que eu fazia tudo melhor, agachamento, alongamentos, exercícios com pesos e todos os outros.
Um dia houve uma mudança na academia, e a nova sala era larga e pouco profunda. Todos os alunos estavam na primeira ou segunda fila à frente do espelho. Ali entendi a razão pela qual eu era constantemente chamada a olhar-me nele: imaginava fazer os exercícios corretamente, mas estava longe disso. Não era melhor do que os colegas, muitas vezes, era pior. Olhando-me, vi que nem me agachava tanto assim e quando me alongava, ficava torta para facilitar o exercício.
A partir dali, pude, enfim, posicionar-me frente ao conjunto. Passei a olhar os colegas sem pretensão de ser melhor e a apreciar suas habilidades. Pude me situar dentro do conjunto e me colocar no meu lugar. Minhas habilidades não eram assim tudo aquilo que eu imaginava. No entanto, a melhor parte de poder me ver no espelho foi que, finalmente, pude começar a corrigir meus erros e com isto até evitar possíveis lesões.
Afinal de contas, qual era o papel do espelho? Refletir minha imagem real. A partir dali, surgiu uma evidência: dentro de nós também há uma faculdade mental que é a de refletir, que tem uma grande similitude com o espelho da academia. A reflexão me permite lançar num espelho interno o conteúdo da minha mente para poder olhá-lo de forma assertiva. Neste movimento, surge a evidência de suas possíveis falhas, permitindo-me fazer modificações, no caso de eu estar enganada. Este movimento, além de possibilitar a correção de rumo do pensamento que quer se manifestar, permite que eu me situe frente aos meus semelhantes. Quem está com a razão? Qual a conveniência de eu expressar isto? Por que penso assim?
O benefício do estudo da Logosofia está implícito neste trecho: “Surpreender a própria realidade interna, tal como a Logosofia a mostra ao entendimento do homem, constitui um dos primeiros e quiçá o mais importante dos objetivos a serem alcançados a curto prazo. Desse encontro surge a necessidade imperiosa de modificar tal realidade, e é então que o ensinamento logosófico, assinalando as dificuldades que deverão ser vencidas, conduz pelo caminho do próprio conhecimento, enquanto ativa a consciência para posteriores desenvolvimentos.”
Conhecer minha realidade externa me mostrou que o mesmo ocorre com a realidade interna e como isto é possível ser alcançado com uma simples olhada no espelho. E temos este espelho dentro de nós. Refletindo podemos introduzir muitas modificações, tanto em nossas posturas físicas como em nossa postura interna.
O ensinamento que tem me ajudado é o seguinte: “O homem reflexivo raramente se deixa levar por seus pensamentos, e até nos momentos mais críticos, costuma amparar-se na serenidade, para não atuar levado por nenhum impulso, ou seja, por sugestão de pensamento algum ao qual não haja concedido, por íntima relação com ele, sua confiança e seu prévio consentimento em tê-lo como solução.”
Esta pausa, que pode levar um milésimo de segundo, é uma das conquistas mais importantes no caminho da evolução da consciência. A capacidade de analisar este conteúdo, antes de fazer com que se manifeste à vida, é de enorme importância. Ela permite evitar a intromissão de pensamentos que nos tiram a razão. Pensamentos que podem nos levar a cometer alguns desatinos por impulsividade. Ou por diversas deficiências como a vaidade, a presunção, a suscetibilidade e outras.
Agora, quando faço ginástica, o espelho é um amigo que ajuda na correção de minhas posturas. Ele sempre me lembra da importância de que eu dê a mim mesma aqueles segundos para verificar se devo ratificar minhas atitudes ou se é melhor retificar algumas delas.