“Você não precisa se encaixar, seja você mesmo!”. Esse é o lema do momento.
Eu, um ser socialmente ativo e extrovertido, custei entender o que isso significa. A frase, que hoje faz todo o sentido para mim, parecia destoar de todo o contexto em que era proferida. “Seja você mesmo”, dizia a propaganda de roupas que pretendia vender grande quantidade do mesmo modelo. “Seja diferente!”, diziam as meninas que, unidas, criticavam o padrão de beleza dos outdoors, mas ouviam as mesmas músicas, liam os mesmos livros e gostavam das mesmas séries. “Quem te ama vai gostar de você como você é”, ouvi de pessoas que não economizavam grosserias no trato com os demais.
Nenhum deles sabia o que é individualidade. Nem eu.
O tempo foi passando, eu fui amadurecendo, mas, em vez de esse dilema se resolver, deparei-me com mais e mais dúvidas. Já não sabia mais o que era meu, o que era imposto, e o que era certo.
Tantas perguntas eu tinha, tão poucas respostas me davam. E essas poucas respostas não me confortavam. Por quê? Porque eles não sabiam o que era individualidade. Nem eu. E não iria descobrir enquanto continuasse buscando as respostas nos outros seres.
Por mais triste que possa ser esse cenário, uma luz surgiu em meio à escuridão. O despertar da consciência para uma realidade tão próxima quanto desconhecida: o conhecimento sobre meu mundo interno. Essa novidade provocou uma mudança substancial na construção do meu ser, pois, por meio dela, consegui desbravar esse universo particular que são meus pensamentos, meus sentimentos, o meu querer…
Percebi que estava na moda “ser diferente”, e que esse “diferente” era igual. Igual porque não representava o indivíduo, porque era diferente só no externo, enquanto que o mundo interno da grande maioria permanecia desconhecido, desconstruído.
Tudo isso, porém, podia ser mudado, e essa mudança dependia apenas de mim. Bastava iniciar um novo empreendimento: o processo de construção da minha individualidade.
Que alegria foi descobrir que:
Aprendi que “O que se quer com o coração permanece na vida, e não somente tem valor antes de alcançar sua posse, senão que esse valor aumenta à medida que se chega à sua realização” (do livro Introdução ao Conhecimento Logosófico).
Ao assumir a posição de agente criador, deixei de lado a passividade que me escravizava e consegui colher os doces frutos do esforço: o conhecimento e a liberdade. Eu não precisava me encaixar, mas poderia, se assim quisesse.
Compreendi que, de fato, sou diferente, que sou um ser único. Mas isso não se traduz nas minhas vestes, no meu cabelo ou nas minhas preferências musicais. Não… esses aspectos se resumem apenas em um reflexo daquilo que edifico no meu próprio universo.
Eu sou diferente quando:
Com esses conhecimentos, pude compreender a origem de alguns desejos e aprendi a diferenciar um interesse passageiro de um verdadeiro querer. Foi observando meus pensamentos que consegui identificar alguns comportamentos, a princípio irrelevantes, que se compõem em verdadeiros obstáculos ao alcance de objetivos traçados. Deixei de lado alguns costumes, adquiri outros, estabeleci preferências e passei a traçar o meu próprio destino segundo as minhas escolhas.
O conhecimento, sobretudo de mim mesma, vem permitindo que eu ocupe o papel de gestora da minha vida.
As más escolhas certamente resultam em alguns contratempos, mas, ao assumir a responsabilidade por elas, surge a possibilidade de redenção de mim mesma, de realinhamento da conduta e, quem sabe, até de reversão do prejuízo.
Essa liberdade, que não custa caro – depende apenas da minha dedicação –, tem um valor incomensurável, e, depois de conquistada, não é algo de que se abra mão facilmente. Pelo contrário, é um bem que protejo como a minha própria vida.
Afinal de contas, de que adianta passar pela vida sem vivê-la em sua plenitude?