Sempre recordo de como eu tinha o costume de observar as pessoas do meu convívio e, consequentemente, das minhas reflexões sobre suas condutas. Se, em algumas ocasiões, a atuação em questão não era agradável a meu ver, às vezes fazia o esforço de agir com paciência, tolerância e afeto outras vezes nem tanto. Mas o que mais me chamava a atenção era o porquê do meu incômodo com determinadas atitudes, enquanto outras não me deixavam irritada. Por que certas condutas percebidas nos outros eram tão desagradáveis para mim?

Com o auxílio da Logosofia, essas inquietudes me conduziram a concluir sobre a importância das vivências com os demais para o nosso Processo de Evolução Consciente. Apesar de cada um trilhar a sua própria caminhada pela existência, os “outros” são um campo experimental riquíssimo que nos permite entrar em contato com os fragmentos perdidos que nos faltam. Os “outros” são uma chance de aprendizado e só depende de nós percebermos essa enorme oportunidade.

Cada indivíduo possui uma centelha divina dentro de si. Somos quebra-cabeças incompletos que passam pela vida com a incumbência de juntar as pecinhas faltantes, e a compreensão de que podemos aprender com os seres que nos rodeiam, e também sermos fonte de aprendizado, permite o entendimento de que todos juntos fazemos parte de algo maior, da grande obra divina — a humanidade. E se todos caminhamos juntos para um objetivo em comum, que é a evolução (de forma consciente, de preferência), enxergar os indivíduos como “outros”, alheios e estranhos ao meu ser, não é mais possível.

Assim, com todas essas reflexões aflorando, compreendi um pouco mais o conceito de “semelhante”. Com alegria revigorada, esse pequeno entendimento virou a chave da minha percepção sobre o papel de colaboração exercido por mim nos caminhos percorridos pelos seres que cruzam a minha jornada e de como tenho a oportunidade de permitir que o meu caminho fique mais floreado com a contribuição externa.

Dessa maneira, percebi que as conversas com os familiares, amigos e colegas de trabalho ficaram mais alegres — fruto da alegria proporcionada pelos novos conhecimentos intercambiados com cada um. Com o tempo, isso também se expandiu para as matérias jornalísticas, os artigos de opinião e palestras de pessoas que eu não conhecia. Percebi que, ao exercer a empatia e me colocar no lugar das pessoas, eu conseguia ao menos tentar entender as razões da manifestação de cada ser, praticando o exercício da tolerância, da paciência e do afeto. Para mim, isso reflete uma parte importante do exercício de tentar compreender a criação de Deus.

Nesse sentido, buscar a compreensão de si, com a realização do próprio Processo de Evolução Consciente, permite cada vez mais que eu conceba a obra divina que habita em cada um de nós e compreenda um pouco mais os demais. A percepção da oportunidade de aprendizado através do meu semelhante nunca mais será esquecida, pois no dia em que eu me vi no meu semelhante, pude ganhar mais entendimento sobre a importância do nosso serviço à humanidade.


Nádila Domingues é de Belo Horizonte/MG, formada em Direito pela UFMG, é servidora pública e atua na área de mediação de conflitos. Mãe da Nina, adora dançar, viajar e aprender mais sobre si mesmo e sua relação com Deus e a humanidade. Estudou no Colégio Logosófico durante a infância e juventude e iniciou seus estudos de logosofia em 2019.