Hoje fui despertada por uma algazarra de passarinhos, justo no dia em que havia planejado dormir até mais tarde. A princípio, irritei-me, cobri a cabeça, apertei o travesseiro nos ouvidos e tentei pegar no sono outra vez. Não consegui; pelo contrário, algo acontecia dentro de mim, tão real que desejei até que aqueles passarinhos não fossem mais embora.
Percebi os movimentos da minha sensibilidade convidando-me a sentir e a agradecer a Deus por aquele instante sublime, direcionando ao meu interior. Então me concentrei nos cantos para identificar os passarinhos que me despertaram.
Bem-te-vi! Puxa vida, parece até que seus pulmões são maiores que o próprio corpo, e vem treinar bem na minha janela! Foi este o que me acordou.
Periquitos, quantos seriam? Pareceu-me haver centenas deles, mas, conhecendo bem sua alegria, devia ser apenas uns três pares – curioso, eles vivem em pares e aos bandos.
Ao longe, ouvi uma espécie de “telefone sem fio”: um gritava que o “fogo apagou”, e outro, mais perto, respondia que sim, o “fogo apagou”.
Pensando neste instante da minha vida e em Deus, refleti:
Será que é assim que Deus fala comigo? Mostrando-me que em sua Criação há movimentos constantes? Aqueles passarinhos, além de me acordarem, despertavam em mim o sentir do palpitar da vida que há em meu interior.
Aproveitei a sinfonia deles para recordar do meu propósito de aproveitar os momentos da vida para ser mais feliz, grata, e consciente da minha capacidade de pensar e sentir.
Quantas vezes os ensinamentos logosóficos aconselharam-me a
Sentir pelas manhãs a felicidade de despertar; senti-la porque se compreende seu significado. (…) e senti-la no repouso, à noite, é ser consciente da vida e experimentar a felicidade porque se sente palpitar dentro de si a vida universal.”
A Logosofia ensina a viver a verdadeira vida e, para que seja verdadeira, preciso aprender a pensar. Perguntei a mim mesma: por que ser grata ao ser despertada pelo alvoroço dos passarinhos? O que aquele momento tinha de tão especial? Respondi internamente: vida, muita vida. Vida barulhenta, movimentada, alegre. O pensamento universal ali, pertinho de mim, entranhando meus pensamentos, meus sentimentos, e meu espírito despertando para a alegria de desfrutar o mundo. Senti que a vida é, sim, a grande oportunidade de evolução do espírito.
Reviver momentos assim e sentir-me capaz de movimentar os próprios recursos internos proporcionam à minha vida sensações que atenuam e adoçam momentos difíceis, porque podem ser recordados, sentidos novamente e, em outras ocasiões, vividos de forma mais feliz e consciente.
Esta é a luta da vida, oferecer um futuro com mais alegrias, tirando dela, de suas lutas, a essência que dá estímulo e vigor ao futuro transcendente.