Eu tenho o costume de voltar o meu olhar para a minha infância, a fim de recordar não somente aspectos importantes de quem eu fui, de quem eu sou e de quem eu quero me tornar, mas também identificar a origem de diversas dificuldades na minha vida.
Uma dificuldade em especial que se manifestava em mim era uma forte insegurança e um temor frente ao futuro. Tinha medo de ir mal no colégio, de esquecer meus materiais, de não gostarem de mim. Sempre me cobrava fazer tudo nos mais perfeitos detalhes, segundo a minha avaliação, perdendo assim várias oportunidades de aprender com as outras pessoas, de aprender a realizar as minhas atividades de maneiras diferentes e até de aprender com meus erros.
Em meio a esse cenário mental de muita rigidez, tive a grande oportunidade, ainda na infância, de conhecer a Logosofia e o ambiente acolhedor da Fundação Logosófica. Participei do Setor Infantil, uma atividade que reunia crianças e estudantes de Logosofia para estudar conceitos fundamentais, como o de ser humano, o Universo, a Natureza e os pensamentos, todos essenciais para conduzir melhor a nossa vida.
Recordo de uma reunião em que estudamos sobre o verdadeiro herói. Os docentes da Fundação Logosófica apresentaram que o verdadeiro herói é aquele que domina a própria mente, pratica o bem com consciência e cultiva pensamentos bons.
Nesse estudo, o que mais me impactou foi a possibilidade de eu me tornar heroína de mim mesma e de ser mais valente frente aos desafios. Aquilo me encantou e acendeu em mim uma luz que passou a me estimular a buscar continuamente os conhecimentos, para ser melhor e fazer o bem.
Na adolescência, surgiu em mim uma grande vontade: mudar o mundo, ser parte da mudança e expandir o bem. No entanto, essa mudança que eu almejava era sempre algo externo, distante de mim.
Mais uma vez, o conhecimento logosófico me ajudou a voltar para o meu próprio ser e a entender que eu não poderia mudar o mundo se antes não olhasse para dentro de mim, identificando o que não estava bem em meu interno, para mudar aquela realidade. Começar a mudança a partir desse pequeno “campo experimental”, que é meu próprio mundo interno, tornou-se o caminho mais lógico a seguir, uma vez que eu entendi que somente poderia dar aos outros aquilo que eu tivesse internamente.
Essa capacitação tem sido uma tarefa muito desafiadora, mas também muito gratificante. Tenho buscado aprender generosamente, pois, assim, na medida em que aprendo, posso também compartilhar com os outros.
Um resultado desses elementos que recolhi na infância e na adolescência foi o desejo de retribuir o bem recebido, que hoje se manifesta na minha colaboração como docente do Setor Infantil, o que tem me proporcionado muitas experiências felizes.
Lembro-me de um dia em que levamos as crianças à horta da Fundação Logosófica e precisávamos preparar o terreno para plantar as sementes. Ao olhar aqueles canteiros cheios de ervas daninhas, fizemos uma reflexão com as crianças: é possível plantar e colher frutos sem antes retirar essas ervas daninhas? Elas entenderam que não, e que era preciso puxá-las pelas raízes para que não crescessem novamente. Comparamos essa vivência com nosso mundo interno e perguntamos: será que temos pensamentos e sentimentos que são como ervas daninhas dentro de nós? Pensamentos que são difíceis de tirar da nossa mente e que nos atrapalham a ser melhores e a fazer o bem? E como podemos preparar esse terreno interno para receber bons pensamentos? As crianças responderam que sim e deram sugestões de como preparar a mente para atrair bons pensamentos.
Olhando para mim mesma, naquele dia, entendi que precisava eliminar a erva daninha da rigidez que me impedia muitas vezes de realizar as coisas, pois não sairiam perfeitas, fazendo com que eu perdesse várias oportunidades. Percebi, também, que precisava cultivar mais o amor e a paciência, pois, assim como esses dois valores estão presentes na natureza, eu também deveria cuidar para que eles estivessem presentes dentro de mim.
Com essa experiência, percebi como a Logosofia me oferece a grande oportunidade de me aperfeiçoar e me capacitar para ajudar as próximas gerações a encontrar um caminho mais feliz para suas vidas. Assim, tenho conseguido superar a insegurança e o medo, construindo um futuro com mais confiança.