- E se hoje, com toda pompa e circunstância, me fosse concedida a tão sonhada liberdade?
- Se me oferecessem, de graça, toda a possibilidade de ser dona de mim, de estar livre para cultuar, me expressar, consumir?
- Se hoje eu pudesse falar, fazer, pensar o que quisesse?
- Se ao fim do dia me encontrasse dona dessa possibilidade tão maravilhosa, estaria eu completamente livre?
. . .
Algumas vezes, eu sou a rainha da situação. Diante de um enorme bolo de chocolate, sem ninguém por perto além de minha inteligência – que conhece muito bem os limites do meu corpo -, me vejo livre para fazer o que quiser, e normalmente faço. Como até pensar que nunca mais na minha vida quero estar diante daquela tentação. Atendo aos meus impulsos até não querer nunca mais ser dona daquela “liberdade”. Não, não. Muito obrigada!
Quantas vezes me foi dada a liberdade de escolha – seja de profissão, seja de companhia – e eu me equivoquei na decisão, ou simplesmente me senti atada diante das inúmeras opções! Quantas vezes me permitiram fazer o que quisesse e eu simplesmente não soube o que fazer ou, pior, escolhi não fazer nada! Convivendo comigo mesma, posso afirmar que, se abolissem hoje todas as regras e convenções, ainda assim seria escrava da minha própria mente.
Vivo em um país democrático, em uma cidade bem estruturada, convivo com seres diversos, tem acesso a todas as fonte de conhecimento técnico e científico que quiser, e tenho uma família que em tudo me instrui para que eu aprenda a andar com minhas próprias pernas. E, ainda assim, não sou livre.
Prendem-me:
- O temor, o medo de errar, de não conseguir, de me frustrar;
- A ignorância, a falta de conhecimento, a dificuldade em saber que rumo seguir;
- Os preconceitos, o não querer aprender, a estagnação da minha mente;
- O “que dirão”, os moldes, os pensamentos de massa;
- A inércia, a falta de vontade;
- Prendem-me, por fim, uma série de deficiências psicológicas que me confundem e malogram meus melhores propósitos.
Então, estou presa a mim mesma!
Estou aprendendo que a verdadeira liberdade não pode ser concedida por ninguém além de mim. Se amanhã abolissem todas as regras sociais, com certeza criaríamos para nós mesmos o maior de todos os problemas, pois a cultura corrente não nos ensinou a pensar com liberdade, não nos ensinou a nos defender do que agride os nossos propósitos, a ter humildade de entender que, para possuir algo, é preciso merecer.
Quão escravos somos nós, jovens, dos padrões, dos pensamentos prontos, das massas! Quão frágeis são nossas vontades diante da opinião de outros seres, às vezes tão despreparados quanto nós mesmos para emitir juízos! Quão desprotegidas são nossas mentes diante dos infinitos estímulos de diversas procedências! É preciso muita coragem para ser, de fato, diferente em uma sociedade que impõe conceitos com violência, tão quanto com sutileza.
É preciso muito conhecimento para possuir uma liberdade real, que nos outorgue a possibilidade de conviver pacificamente em sociedade e de nos desenvolver de forma integral, sem infringir as principais leis, que são as Leis da Criação. É preciso que eu aprenda a usar a minha inteligência, para só depois querer ser livre para pensar. É preciso que eu aprenda a querer com consciência, para que só depois eu possa fazer o que quero. É preciso saber com clareza para onde eu vou – e por que – para, então, poder seguir. É preciso, por fim, muita valentia para assumir a responsabilidade de ser livre, para ser digna de conduzir minha vida da forma que minha consciência me indique.
A liberdade, essa prerrogativa natural do ser humano, não deve ser buscada por um mero capricho, mas pelo conhecimento de seu real sentido e das maravilhosas possibilidades que oferece quando empregada para o melhoramento individual e para o bem da humanidade. Eis aí a verdadeira liberdade!