Para a maioria das pessoas, ser livre é fazer aquilo que a cada um mais apeteça; se está bem ou malfeito, isso não é o que importa.

A liberdade se diferencia do livre-arbítrio pelo fato de que, enquanto a primeira tem sua expressão no mundo externo, o último a tem no interior do indivíduo.

A liberdade de culto, de palavra, de comércio, como a de caráter político, social ou econômico, são produtos de uma manifestação que transcende o foro interno do homem. Essa liberdade é requerida por uma necessidade lógica da convivência humana e é, ao mesmo tempo, imprescindível para que as faculdades do indivíduo encontrem campo mais propício para seu desenvolvimento e função. Condená-lo a suportar uma opressão que o prive de sua liberdade é submetê-lo a um virtual embrutecimento.

Pode um homem ser privado de sua liberdade, não lhe sendo permitido mover-se à vontade; porém, o livre-arbítrio continuará atuando internamente, já que ninguém poderá impedir a atividade dos pensamentos dentro de sua mente. Cervantes, por exemplo, quando concebeu e escreveu no cárcere a famosa obra em que sintetizou boa parte das observações que havia feito sobre a psicologia humana, deu uma prova evidente de que não havia sido privado do livre uso de suas faculdades mentais.

Não obstante, o livre-arbítrio, ou seja, o exercício da razão em correspondência direta com as demais faculdades do sistema mental, pode ser reduzido ao mínimo e até anulado, se o homem é privado, desde a infância, do livre jogo das funções de sua inteligência, sendo obrigado a fechar sua mente a toda reflexão útil.  Em consequência, sobrevém a atrofia de suas faculdades e o debilitamento da razão até ser anulada.

Dentro da estrutura das leis que gravitam sobre a consciência do indivíduo, a liberdade humana é a mais preciosa conquista

O dilema é claro e terminante: ou se aceita o triunfo da barbárie, com os povos se confessando culpados de todas as agressões cometidas pela delinquência, ou se proclama o triunfo da civilização, que é o da sensatez, e se tomam todas as medidas para rechaçar o mal. Os dias futuros dirão se as páginas que a História reservou para a nossa época haverão de ser escritas por mandado da força ou se serão ditadas pela razão das consciências livres.

Extraído de Coletânea da Revista Logosofia – Tomo 2, p.7-9

Coletânea da Revista Logosofia – Tomo II

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Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.