A fase da infância é inesquecível na vida de muitos de nós. Em nossa memória fica o registro de fatos marcantes, que, de alguma forma, influenciam toda a nossa vida. Tratando-se das brincadeiras, eu me recordo das sensações promovidas por elas: alegria, liberdade, desprendimento, grandeza diante da vida – sim porque a vida fica grande diante de uma corda para pular, de um gramado para correr, do banho de piscina com os amigos, e de um papel para desenhar. Ainda que estejamos sós, há grandeza e profundidade quando estamos diante de papel e um lápis de cor. Na verdade, através do brincar as crianças se unem e usam sua capacidade de criar de modo singular.
Nessa viagem pelo tempo, recordei-me daquele clubinho onde nós, as crianças da rua em que eu morava, desenvolvíamos nossas tendências artísticas. Mesmo os que não possuíam nenhum atributo, sempre tiveram espaço para contar uma história, improvisar um número de dança e interpretar aquele personagem do desenho preferido, e, claro, a platéia eram nossos pais, avós e irmãos mais velhos. Recordo-me também das brincadeiras debaixo das chuvas de verão do RJ e do pique-bandeira. Certa vez, fraturei um dos braços em uma brincadeira com meu irmão, da dor no braço já nem lembro, mas não me esqueço da capa compondo minha fantasia.
Com a Logosofia, tenho aprendido a recordar esses momentos e valorizar a criança que fui, resgatando os valores que se fizeram presentes em minha vida desde a mais tenra idade.
Dessas memórias resgatei a simplicidade, a alegria e a oportunidade de viver em um universo quase que todo próprio. Resgatei também o prazer de dividir com meu irmão os momentos inesquecíveis dessa fase, que sempre é lembrada nas festas de família com muita alegria. Hoje, com meus filhos, sinto que não é tão diferente assim, pois a necessidade de brincar existe e é muito presente. Descobri que é necessário apenas criar as oportunidades para que as crianças busquem essas mesmas vivências. Na minha experiência, foi desligando a TV e o jogo eletrônico que lhes propiciei encontrarem no outro o grande companheiro para suas tão divertidas brincadeiras, aprendendo com isso a aprender, a compartilhar, a conviver e a vencer os desafios.
“Nessas últimas férias com minha família tudo foi feito: brincamos de pique-esconde, pique-bandeira, futebol, jogo de tabuleiro, cantoras de rádio, pesquisador de aranha, queimado e muito mais. A criançada que se reuniu em torno desse universo da brincadeira variava dos sete meses até os pré-adolescentes de 12 anos. Ninguém foi excluído, e todos, brincando a valer, exercitaram a convivência — no sentido mais amplo e construtivo. Sim, porque nas brincadeiras aprendemos muito sobre união, troca, respeito e confiança. Ao acabar as férias, ficou um gostinho de quero mais,
aquela sensação de que realmente foi muito bom. Meu filho ainda hoje me disse: “Mamãe, não consigo esquecer das meninas e das brincadeiras.” E pensei: “Agora teremos que esperar até as próximas férias.”
Fiz esta anotação há muito tempo atrás, quando meus filhos eram pequenos. No entanto, quanto disso tudo se perde por não termos consciência ou conhecimento para avaliar essa realidade. Os acontecimentos de nossa vida assumem importância quando conseguimos vê-los pela lupa do conhecimento, quando compreendemos que a vida é um grande campo experimental, e que a infância é uma etapa importantíssima nesse caminho que percorremos até a vida adulta.
A Logosofia ensina que estamos em formação e em uma eterna transformação, mas que é sobretudo na infância que as melhores sementes (as sementes do bem, do belo e do justo) devem ser semeadas, favorecendo essa transformação.
A mente da criança é terra virgem e fértil. É, portanto, a fase da semeadura, de ensinar de forma lúdica, sensível, e com o exemplo dos valores que farão da criança de hoje o homem de bem do amanhã. Valores que serão decisivos para o pensar e o sentir do ser no futuro.
Hoje meus filhos são jovens adultos e, quando os observo, percebo em suas reflexões e decisões a presença dessas sementes que tive a felicidade de plantar e cultivar.
“Conseguir que as gerações futuras sejam mais felizes que a nossa será o prêmio mais grandioso a que se possa aspirar. Não haverá valor comparável ao cumprimento dessa grande missão, que consiste em preparar para a humanidade um mundo melhor.“ Logosofia