Tem-se dito que as gerações anteriores estudavam menos que a nossa. Se tomarmos como referência a frequência escolar, podemos dizer que sim, mas quando recordo o exemplo de vida de meus pais, percebo que eles estudaram bastante, porém a seu modo.
Meu pai, ainda jovem, foi trabalhar em uma cooperativa. Foi bom aprendiz e muito observador. Mais tarde, dedicou sua vida ao comércio. Contava em detalhes tudo o que viveu naquela época de aprendizado.
Minha mãe foi estudar costura e, mais tarde, dedicou parte da vida a esse ofício.
Em relação aos meus estudos, sendo filha de comerciantes que residiam na zona rural, era necessário percorrer grandes distâncias para chegar até a escola.
No caso dos meus pais, os estudos serviram para garantir-lhes a subsistência. Quanto a mim, fui incentivada a estudar para fazer a contabilidade do comércio de nossa família. Acredito, no entanto, que a verdadeira intenção deles talvez fosse a de que eu aprendesse a ser alguém na vida.
Não demorou até que eu demonstrasse soberba ao apresentar minhas novas ideias. O que eu não imaginava era que, em verdade, elas eram incipientes diante da experiência de vida dos meus pais. Por outro lado, para eles era inadmissível eu frequentar a escola e continuar sem conhecer aspectos práticos da vida. Recordo meu pai a afirmar: “Estudam, estudam… e continuam burros”.
Mal sabia ele que os sistemas pedagógicos empregados apenas cumpriam com as disciplinas impostas, e que pouquíssimos professores se dedicavam à formação psicológica do aluno; quando o faziam, era para inflar sua personalidade — que comumente chamamos “ego”. Assim foi como passei vinte e um anos da minha vida na escola. Tempo que aprendi pouco sobre o que dizia respeito a mim e quase nada na busca de me conhecer melhor ou de como lidar comigo mesma.
Algum tempo depois, chegou a hora de ter meus filhos, e eu me senti mal ao me encontrar sem elementos suficientes para oferecer a eles algo no que tange ao conhecimento da própria psicologia.
A vida da minha família mudou quando, aos 40 anos, entrei em contato com uma escola para a vida, a Fundação Logosófica, particularmente quando me deparei com um conselho deixado pelo autor da Logosofia a seu único filho: “Sua vida será, pois, motivo constante de estudo. Logo compreenderá que não há estudo mais belo”.
Sobre o estudo da própria vida, recordo com nitidez a primeira vez que observei um pensamento tomando forma na minha mente e quando me dei conta de que, por vontade própria, eu poderia dominá-lo. Era o pensamento da impulsividade que se manifestava com muita facilidade e a toda hora. Quando consegui contê-lo, a alegria foi enorme.
Hoje, esse estudo significa para mim: és tudo. “És tudo o que estudas”. É notável experimentar essa afirmação na própria vida. Estudar, para me aperfeiçoar como ser humano, trouxe uma profunda transformação na minha vida. Entender que ser é saber foi formidável… Hoje sou tudo o que estudo, na certeza de que o estudo aumenta o saber e pode transformar a vida em uma realidade jamais suspeitada antes.